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quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Mito, Fantasia e Mentira.


O ser humano moderno tem a natural tendência a relegar tudo aquilo que não está na total esfera da realidade como sendo mentira. Nesse sentido, palavras como mito, lenda, ficção e fantasia, todas acabam ganhando esse sinônimo como se não fossem nada além de enganação, lorotas criadas, ou para iludir, ou para controlar.
Tal forma de se interpretar essas palavras é um fenômeno comum, que teve seus primórdios no início da modernidade com o boom das ciências da natureza e do paradigma iluminista que priorizava a razão como grande condutor da humanidade. Nesse contexto, outras formas de se explicar, ver ou interpretar o mundo que não tenham como base a análise científica, foram renegadas ao patamar de enganação, superstição. Assim, os mitos gregos, cristãos, as lendas passadas de famílias, os romances de ficção e fantasia, todos eles foram pegos pelo vendaval da modernidade e toda a sua obra passou a ser totalmente desprezada.
Mas devemos pensar na fantasia como uma mera mentira? Nesse breve ensaio eu não pretendo dizer que anjos, demônios, bruxas, vampiros, ou fadas, existam de fato, mas será que esses tidos mitos, são unicamente mentiras? Antes do paradigma científico, a realidade era explicada dessa forma, mas esse método caiu em desuso com a modernidade. Diz o antropólogo Clifford Geertz (A Interpretação das Culturas) que o ser humano é capaz de acreditar em qualquer coisa minimamente racional, mas está totalmente incapacitado para gerenciar o Caos.
Então, a pergunta que eu lanço é: para que servem os mitos? E a resposta: para gerenciar o caos, dar ordem a bagunça e encontrar algo que possa ser justificável perante as incógnitas do mundo. Falando isso eu quero chamar a atenção para o fato de que, muito além de mera mentira, o mito e a fantasia vêm para tentar dar sentido para coisas que muitas vezes não tem sentido algum. Logo, elas não podem ser vistas como meras mentiras sem pé nem cabeça, onde o seu principal objetivo está em enganar ou apenas entreter quem o ouve. Eles são uma forma de racionalizar a natureza, de encontrar respostas. Todo o mito tem um ponto de partida, tem uma gênese e essa é a própria realidade. É o mundo empírico que leva o ser humano a pensar no mundo espiritual e não o contrário.
Nesse sentido, existe uma razão para que os mitos existam, pois eles nascem a partir do momento em que a razão não dá mais conta de explicar. Então, quando falamos de demônios, por exemplo, estamos falando de uma maneira de se explicar o mal do mundo, de se tentar entender por que existe dor, tristeza e sofrimento. É uma forma de se tentar dar justiça a um mundo que aparentemente não é justo.
Concluindo, qual foi o objetivo desse breve ensaio? Foi o de tentar propor uma nova forma de se pensar o mito e a fantasia, de modo que eles sejam vistos além da superstição, além do entretenimento, mas sim como o que são: uma forma de se dar sentido a um mundo sem sentido.

*Imagem retirada do Blog: http://castelomaldito.blogspot.com

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