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segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Lançamento: De Corpo e Alma.

Saudações Amigos.
Hoje, venho lhes anunciar a data de lançamento de meu primeiro romance impresso, “De Corpo e Alma”.
A data escolhida foi o dia 25 de Janeiro, e o local de lançamento será o espaço Multifoco, situado na Av. Men de Sá, Lapa, de acordo com o convite em anexo.

Informações sobre a Obra:
Título: De Corpo e Alma
Autor: Willian Nascimento
Número de Páginas: 310
Preço de Capa: R$ 40,00
Forma de Venda: Pela Internet. Acesse: Editora Multifoco
Sinopse: “Duas vidas, duas almas, duas histórias, um corpo. Victória agora não está sozinha. Aonde quer que vá, o que quer que faça, ela tem consigo um companheiro que segue seus passos, que ouve seus pensamentos e que faz parte de sua vida. O problema, é que esse companheiro não tem boas intenções e também, é um demônio. A beleza e o mistério de Pierre são tão poderosos e capazes de atrair Victória, quanto sua natureza é capaz de lhe espantar. Medo e desejo, amor e ódio, coragem e loucura começam a andar juntos, quando Victória se lança na busca por saber mais sobre seu indesejável hóspede. E essa experiência vai mostrar-lhe um mundo diferente, um que jamais sonhou. Um lugar onde tudo parece fantástico e terrível ao mesmo tempo. Onde se entregar significa tanto a liberdade quanto a perdição. E onde vai descobrir que tudo é possível, até mesmo se apaixonar por Pierre.”


Para aqueles que gostam de uma boa história envolvendo magia, romance e mistério, não perca essa fabulosa aventura, inspirada no mesmo mundo fantástico de “O Véu”.
Espero que venham curtir essa fabulosa história. E aguardo vocês lá.
Abraços

Willian Nascimento

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

FELIZ NATAL!!!!

Para todos os leitores, escritores, seguidores, amadores... (Ufa!)
Enfim, para todos aqueles que, como eu, amam esse universo literário.

Feliz Natal!!!!!


Nos vemos no Por Detrás do Véu.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Instinto de nacionalidade e espelho estrangeiro: O problema da ambiguidade na escrita. Ou Carta ao escritor brasileiro.


Não é de hoje que a escrita no Brasil sofre diante de um poderoso dilema: como realizar um trabalho de qualidade, tal qual fazem no esterior, sem perder nosso instinto de nacionalidade? Os nossos modelos de qualidade, civilização, beleza e cultura, desde nossa colonização foram importados. A Europa era o berço civilizacional, a herdeira da cultura greco-romana, o exemplo em que toda nação que quisesse se considerar desenvolvida deveria se espelhar. Entretando, no Brasil do séc. XIX, um país que acabara de passar por sua independencia política e tentava construir sua idéia de nação, um outro problema se colocava diante dos escritores do oitocentos o de por nacionalidade em seus escritos.
Assim, vivendo com os pés no Brasil mas tendo sua cabeça na Europe, viviam a maior parte de nossos intelectuais. Tentado construir a nacionalidade brasileira, mostrando o que ela teria de original e potencial, mas baseando-se, na maior parte das vezes, em modelos que nos eram importados. Acho que não preciso dizer que esse dilema, mesmo tendo-se passado mais de um séc., ainda se mostra presente em nossa produção, não é mesmo?
Ainda podemos nos considerar escritores ambiguos. Ainda tentamos produzir uma literatura nossa, mas que cisma em se pautar em modelos importados. Na fantasia, lemos muito J.K. Rownlig, Stephanie Meyer, Anne Rice, Tolkien, e outros que nos passam os padrões de qualidade de uma obra. Além de lidos, eles chegam a nosso país com um sucesso tão avassalador, que é dificil um escritor nacional não se sentir tentado a querer parte desse sucesso para si.
Então, ambientamos nossa história no nosso país, escolhemos personagens brasileiros, e usamos o nosso modo de falar, mas não conseguimos fugir da sensação de que, por menor que seja, de que nossas obras de alguma forma lembram os “Harry Potters”, “Crepúsculos”, “Entrevistas com os Vampiros” e “Senhores dos Aneis” que pululam em nossas livrarias.
Como sanar esse problema: Sinceramente, eu não faço a menor idéia. Pois esse “problema” (se é que posso chamar assim), não é uma doença que possa ter cura, ou um erro de trabalho que possa ser concertado com a utilização de um novo método. Esse é um dilema grave, que nos acompanha desde muito tempo. Um dilema que está entranhado em nossas mentalidades e que faz parte de nossa forma de viver, de enxergar o mundo, de entendermos as coisas.
O objetivo deste ensaio não é com isso, propor a cura de um mal nacional, mas sim atentar para existência dele. Acho simplesmente pobre demais acusar uma produção nacional de plágio do esterior, quando toda a nossa forma de pensar é importada de um outro país. Alegamos que temos de ser originais, conceito esse que foi pautado no romantismo alemão do séc. XIX. Queremos ser nacionalistas, elemento fundador das nações européias.
Logo, até mesmo quando queremos ser brasileiros, temos que nos chocar com o fato que nossa concepção de Brasil ainda está muito arraigada na noção de que outros construiram de nós. Mas também, isso não é motivo para se alarmar, ou pensar que nossa produção de nada vale. Pois essee problema de identidade não é próprio do brasileiro. Basicamente toda e qualquer nação que tenha se criado, teve de passar, eem algum momento, por esse dilema. Pois em algum momento de sua criação, teve de tomar emprestado ao de um outro.
Silvio Romero
Todos nós, seres humanos, somos de alguma forma mestiços. Se não no sangue, nas idéias, como dizia Silvio Romero. A única diferença de nós e deles, é que nós temos essa consciência mais acentuada em nossa maneira de nos encararmos, enquanto eles, prenden-se na inocência de que são cem por cento puros.
Por isso, escritor brasileiro, não se desanime se achar que sua obra de alguma forma faz mensão ao que foi produzido fora de seu país. Pois você não é o único. A única diferença entre você e um estadunidense ou europeu, é que você é capaz de assumir isso. Agora só precisamos parar de nos martirizarmos cada vez que chegamos a essa conclusão.
Boa sorte, pois essa jornada é muito acidentada.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Comunicado

Saudações Amigos.

Gostaria hoje de pedir desculpas por não postar nada de novo no Blog.
É que estamos no fim do período da faculdade e como devem imaginar, as coisas vão se acumulando em velocidade espantosa.
Gostaria só de pedir para que não fiquem chateados comigo e avisar que, semana que vem, prometo passar aqui e deixar alguma coisa, seja para instigar um pensamento ou para por vocês  par das atualizações sobre meus livros. ^^

Abraços!!


Willian Nascimento

sábado, 27 de novembro de 2010

Auto-Publicação


Talvez o maior desafio de um escritor independente, que resolve por si só publicar sua obra, é o fato de ter ele de sofrer os encargos de todas as áreas de sua produção. Ele é o escritor, revisor, editor, ilustrador, publicitário, administrador e vendedor. É um trabalho pesado, mas também, muitas vezes, é a única forma dele conseguir seu espaço. Sem dúvidas que com uma grande editora, a coisa fluiria muito mais fácil, principalmente porque, tendo um revisor e um editor com ele, o livro tem maiores chances de sair com qualidade. Isso se deve pelo fato do escritor não ser o melhor revisor, e nem o melhor editor de seu próprio trabalho. Mas por quê?
Um bom escritor tem que saber passar a informação, tem que tornar sua mensagem compreensível, tem que estar atendo as regras de escrita, tem que amarrar bem uma história, tem que construir personagens convincentes. Enfim, tem que construir todo um mundo onde as coisas façam sentido. E como ele saberá que atingiu determinado objetivo? Seria ele mesmo capaz de ter essa consciência?
Em meu artigo – Entre o Autor e o Leitor – eu procurei dar apontamentos sobre o processo de interpretação de um texto. E tentei também provar que por melhor que seja sua escrita, um autor não tem a garantia de que sua mensagem será plenamente compreendida entre os inúmeros leitores que terão acesso a sua obra. Porém, depois de pensar bastante, acredito agora que a coisa seja ainda mais complexa do que isso. Pois não é só da trajetória entre autor e leitor que o texto sobre modificações. As primeiras transfigurações ocorrem do trajeto em que o livro faz ao sair da cabeça do autor e passar para sua escrita.
Por mais rica que a língua brasileira seja – e ela é –, seria realmente possível exprimir todas as formas de experiência humana em palavras? Será que nós seriamos mesmo capazes de transformar em palavras tudo aquilo que sentimos, ou que pensamos? Qual a garantia de que a idéia que possuímos está fidedignamente representada em nossas palavras? Talvez nenhuma. Mas uma coisa é certa: não é em nós mesmos que vamos encontrar essa resposta, e sim no outro. É o leitor quem poderá nos dizer se a mensagem foi bem passada. É alguém que lê que pode, ao dizer o que entendeu e nos dar a noção das possibilidades de interpretação que o livro, artigo, resenha ou qualquer obra escrita, possa estar causando. Nesse sentido, ter alguém para ler é fundamental.
E não é só na questão da mensagem. A própria ortografia também fica prejudicada na ausência de um revisor externo. Isso porque, nesse mundo computadorizado onde a escrita é acelerada pela rápida digitação, é muito mais fácil perdermos a atenção para algumas regras de ortografia, ou então clicarmos na tecla errada e mudarmos assim o sentido da palavra que queremos escrever. E digo que se o próprio autor quiser fazer por conta própria uma revisão em sua obra, haverá grandes chances de fracassar. Isso porque a leitura do autor nunca será plenamente atenta à obra. Pois foi ele quem a escreveu, ele conhece a história e ele sabe como as coisas estão escritas no livro – ou então, sabe como elas deveriam estar escritas no livro. Assim, com uma leitura viciada, os erros bobos passam despercebidos, e por mais revisões que se faça, sempre terá aquele erro chato que não será encontrado.
Vocês devem estar imaginando que eu digo tudo isso por experiência própria. E é de fato isso. Eu conheço bem, ao longo desses poucos anos em que atuo como escritor independente, das dificuldades que é construir sozinho – do ponto de vista editorial – um bom livro. Então, a pergunta que deve estar surgindo é: “Como resolver esse problema?” E a resposta é tão óbvia que muitos não prestam a atenção a ela: “Deixem as pessoas lerem seu livro.”
Distribua-o para amigos, professores, conhecidos. Peça a eles uma opinião sincera e não fique fechado com as críticas que receber. Uma coisa que sempre repito aqui no blog é o fato de que temos que perder esse medo da crítica. Paramos de pensar que crítica profissional e pessoal é a mesma coisa. Temos sim que estar abertos aos pontos fracos que são revelados em nossa obra, como forma de tentarmos melhorar nossa produção. Se um leitor diz que uma parte está confusa, leia-a de novo você também e tende ver se não há de fato um problema com ela. Se ele diz que encontrou erros na escrita, acredite, pois é bem provável que haja mesmo. Um leitor é alguém neutro na história. A leitura dele está muito mais atenta que a do escritor, pois, ao contrário do segundo, ele não sabe como as coisas acontecem, não tem a certeza do que vai encontrar. Por isso, sua leitura está muito mais atenta devido a curiosidade.
Nesse sentido, concluo defendendo a idéia de que é preciso coragem para produzir um bom livro. Coragem de pensar em coisas absurdas, coragem para escrevê-las, e mais coragem ainda para permitir que outros leiam as coisas absurdas que você pensou. Um bom livro só está completo se as três fases de sua produção estiverem prontas: criação, escrita e leitura. E nesse processo, infelizmente o autor não é capaz de dar conta estando sozinho. Então, se ele não tem um editor ou um revisor para fazer isso por ele, sempre poderá contar com essa enorme comunidade de leitores ávidos que estão espalhados pelo país. Escrever é algo pessoal, mas também é um exercício coletivo. Então, não tranque o seu livro, não o permita ficar para sempre preso, sem ninguém para lê-lo. Liberte-o e o deixe crescer, amadurecer. Esse é o recado.

domingo, 21 de novembro de 2010

Como escrever literatura infantil para uma geração precoce?


Muito se fala em proteger os filhos, garantir sua inocência e assegurar a saúde familiar. Há todo um alerta para se prevenir que conteúdos inapropriados cheguem aos ouvidos da geração imatura, porém, na mesma proporção que essas barreiras são produzidas, notamos um fenômeno de desenvolvimento precoce nas crianças. Cada vez mais cedo elas têm contato com conteúdos não recomendados. A televisão, a internet, e outros meios de comunicação as bombardeiam todos os dias com imagens de violência, sexo, vocabulário pesado e outras manifestações que deveriam apenas estar restritas ao universo adulto. E por mais que os pais se desdobrem a fim de preservar sua integridade, o que notamos é que essa é uma batalha perdida.
A precocidade infantil é algo visível no mundo de hoje. Não só elas têm acesso a um vocabulário e a saberes pouco condizentes, como o próprio desenvolvimento corporal começa a atingir níveis acelerados. Elas de fato estão crescendo mais rápido. Mas até que ponto isso acontece? A proposta deste ensaio é levantar problemas da produção literária infantil da atualidade, tentando dialogar com essa nova geração de crianças precoces, que estão mais próximas do mundo adulto do que seus pais, na mesma idade, porém, que ainda não devem ser consideradas como totalmente maduras.
Podemos dizer que a literatura infantil tradicional tem perdido grande parte de seu público, pois as histórias da carochinha e os contos de fadas, hoje, agradam muito menos essas crianças que se lançam cada vez mais cedo em temas como paixão adolescente, conflitos de identidade e outras questões mais próprias da literatura juvenil. Hoje, muito menos se lê a Branca de Neve, ou a Chapeuzinho Vermelho, e mais e mais se procura os romances juvenis que estão em voga nas livrarias. Essas crianças estão sedentas de informação adulta, querem ser vistas como mais velhas do que realmente são. E em grande parte, elas estão mais velhas, mas não totalmente.
A literatura infantil de hoje tenta se adaptar a essa mudança. Tenta elaborar um novo gênero que de conscientizar conta a criança de temas que agora fazem parte de sua nova realidade. E essa é uma tarefa difícil. Pois ao mesmo tempo em que tenta se reinventar, ela vê barreiras serem erguidas contra ela. A censura pesada e a manifestação de grupos conservadores que buscam a proteção da família se apresentam como fortes barreiras a esse tipo de atitude. Querem censura, querem que determinadas informações fiquem longe de seus filhos. Mas infelizmente é um pouco tarde, pois elas já chegaram até eles.
Os próprios “baixinhos” não querem saber de histórias para crianças, pois se consideram maduros demais para elas. E esse é um fenômeno absolutamente normal, pois quem de nós já não se sentiu mais maduro do que realmente é? Eu mesmo lembro que já passei por essa fase, mas ela é uma ilusão. Apesar de desde cedo estarmos cientes de determinadas coisas, isso não nos torna adultos. Saber sobre sexo não quer dizer que você entende o que ele é, o que significa, nem que esteja preparado para ele. Saber falar palavrões não indica que se está realmente ciente do que essas palavras significam, ou que impacto elas têm sobre as outras pessoas. Enfim, o que temos hoje é uma geração que sabe muito, mas que não entende nada. Como agir nesse caso?
Ignorar não é o caminho. Tentar se prender a uma concepção tradicional, acreditando que esses temas jamais chegarão aos ouvidos de seus filhos não é o o melhor meio. É, no mínimo, uma utopia. E quando nos fechamos para isso, quando ignoramos esse fenômeno, o que temos é justamente uma geração sedenta de conhecimento e cega de curiosidade, que não tendo as respostas nos meios seguros, tentam consegui-las através das experiências próprias, que muitas vezes podem levá-las a caminhos perigosos. Acredito não precisar citar aqui os exemplos, não é mesmo?
Logo, já que temos que nos preocupar com a conscientização dessa nova geração, não poderia a literatura ter um papel nesse processo? Não seria melhor, aproveitar o espaço da escrita – que vem crescendo no Brasil - para se tentar, orientar essa nova geração quanto aos perigos aos quais estão submetidas, ao invés de se abstraírem dessa questão, apresentando uma realidade que não bate com o universo infantil de hoje?
Posso estar sendo duro no que vou dizer agora, mas essa é a forma como vejo as coisas. O que acontece no nosso país – e no mundo em geral - é uma ignorância hipócrita. Muitos valores ultrapassados ainda tentam se firmar e as pessoas se prendem na esperança de uma família totalmente estruturada e tradicional como nos moldes do séc. XV XVI e XVII. Mas essa família não é mais possível. Muitas coisas acontecem para que ela não mais exista. E isso não é o fim do mundo, pois se mostra como uma possibilidade de rever seus valores e se adaptar a uma nova realidade.
Então, nesse sentido eu entro na questão da censura. Seria mesmo uma boa idéia apagar determinados temas dos livros que os nossos filhos lêem? Seria a melhor saída ignorá-los como se estes não existissem. Ou não seria melhor emergi-los. Trazerem-nos a tona, mas de uma forma que possa não só apresentar uma realidade, mas também torná-la compreensível para o menor.
A curiosidade é um dom humano. É talvez aquilo que nos permitiu descobrir muitas coisas ao longo dos séculos. Mas essa curiosidade também pode levar à caminhos perigosos. Por isso, tomar o caminho inverso e ao invés de isolar, conscientizar para preservar. Não seria melhor revelar uma verdade que já está pré configurada na mente de seu filho, ao invés de se calar e torcer para que algumas coisas nunca cheguem ao ouvido deles? Informação é a melhor solução. Saciar essa curiosidade e evitar que um menor chegue às respostas pelos próprios caminhos, ter um diálogo mais aberto, e permitir que nossa literatura ajude nesse processo. Pois os escritores infantis querem ajudar, mas é necessário que seja permitido a eles trabalhar nesse sentido.

sábado, 13 de novembro de 2010

A literatura como espelho da sociedade.


O presente ensaio tem como principal influência uma recente discussão ocorrida na minha faculdade, mediada pela professora Maria Aparecida Rezende Mota, tomando como base o artigo de Mônica Veloso publicado na revista Estudos Históricos, n° 2, “A literatura como espelho da Nação”. Por trazer uma dimensão muito interessante sobre literatura, que é a área por excelência de discussão do Por Detrás do Véu, decidi por fazer uma síntese do que foi trabalhado em aula e disponibilizar os resultados aqui para vocês.
Uma coisa que eu já vinha percebendo muito fortemente aqui no Brasil é o pouco crédito que a literatura de fantasia goza. Pensei inúmeras vezes sobre o motivo para tal fenômeno, até que algumas leituras de teóricos da Literatura como Luiz Costa Lima, conseguiram me acender uma luz cujo recente curso ajudou a amadurecer e firmar.
Como base para se entender esse problema, é interessante chamar a atenção para o detalhe de que a nossa literatura nasceu sob o signo do trabalho documental. Desde seus primórdios, com o movimento romântico, a produção literária tinha como metas tentar traçar um quadro do que era o Brasil, de como ela era composto, de que maneira ele era. A literatura como espelho da nação é uma expressão que ilustra muito bem esse compromisso dos literatos em apresentar uma verdadeira nação brasileira. Algo que desde os romances românticos já havia, como pode ser visto na obra “O Guarani” de José de Alencar, que, apesar de imbuído do sentimento romântico, fazia questão de situar sua história em um local real do Brasil, assim como realizava pesquisas e inseria notas explicativas em seu trabalho, a fim de situar o leitor sobre os costumes indígenas e outras especificidades que apareciam na obra.
Com o movimento realista, essa pretensão de se traduzir a realidade através da literatura só se fortaleceu, e desde então, um forte veto ao ficcional se estabelece. A literatura de qualidade era aquela capaz de ser objetiva e de retratar o Brasil como ele era. Nesse sentido, além do compromisso com a retratação do país, ela também se empenhava na construção da nação, dos ideais nacionais. Logo, uma boa literatura tinha de ser objetiva e nacional.
Nesse aspecto, a fantasia pouco ou quase nenhum espaço tinha para se mostrar, o que explica um pouco como esse gênero pouco se desenvolveu. Mesmo hoje, com o boom fantástico internacional, que influenciou a criação de muitas obras nacionais de fantasia, ainda pouco consegue ser publicado. São poucos os autores fantásticos que tem a chance de serem lançados por uma grande editora. Normalmente, trabalhos de jornalistas e romances regionais ainda têm muita força por aqui, o que talvez possamos associar a essa herança documental, de uma literatura engajada com a tentativa de se apreender a realidade.
Entretanto, seria realmente possível a literatura enquadrar a realidade? Ou melhor, seria esse de fato o seu papel? Comecemos pela primeira questão:
Nossa sociedade, tanto a brasileira como a tida ocidental como um todo, dá grande apreço à ciência. Verdade é sinônimo de cientificidade, prova é sinônimo de empiria, e discurso verdadeiro é sinônimo de discurso objetivo e imparcial. O termo “retratar”, é muito usado – e foi utilizado por mim acima – para dizer quando se tenta de fato, capturar uma imagem real. A fotografia, nesse sentido, seria a mais apta a capturar a realidade, pois ela a conseguiria reproduzir as coisas e as pessoas como realmente são. Porém, seria uma fotografia totalmente objetiva? Seria um fotógrafo capaz de apreender a realidade imparcialmente? Mas então, onde estariam certas escolhas necessárias para uma boa fotografia: “de que tirar fotos?” “Que ângulo escolher?” “Que horário e que luzes utilizar?” Essas são perguntas totalmente subjetivas. Por mais que um retrato seja capaz de capturar os detalhes reais de um acontecimento, ou um lugar, a escolha que o fotógrafo faz deles já é carregada de subjetividade.
Logo, se a própria câmera já não é completamente objetiva, seria mesmo a literatura capaz de tão pretensiosa tarefa? (como observação, eu acho de bom tom também lembrar que aqueles que acreditam que o “Big Brother” é um programa capaz de retratar a realidade, como postula sua alcunha de reality show, estão se iludindo. ^^)
Voltando ao foco, algo que também deve ser lembrado é que, se as ciências e o jornalismo têm como função tentar apreender essa realidade, essa é uma função própria da ciência e do jornalismo. O que quero dizer é que a literatura, como manifestação artística, não tem esse engajamento. Ela não é uma forma de ciência, ela é arte, ela não trabalha com a razão, e sim com a emoção com as sensações. Por conta disso, querer que ela seja um espelho da nação, ou da sociedade, é atribuir para ela uma tarefa que não é de seu interesse. Dizer que ela é boa ou ruim por conta desses quesitos é julgá-la por atributos que não a constituem.
A literatura não retrata a sociedade, ela a transfigura, ela não traduz uma realidade, ela a transforma. Ela não é objetiva com relação a seu objeto, é subjetiva, pois está carregada da visão do autor sobre ele. Por conta disso, a literatura, mais do que tudo, não tem como função criar um quadro do real, de confirmar as certezas que nos temos. Ela é criada justamente com um fim totalmente oposto. Ela nos desestabiliza e nos obriga a pensar de uma forma diferente, de encarar a nossa realidade de forma completamente nova. Ela muitas vezes nos causa estranhamento, nos deixa receosos, temerosos, por nos fazer confrontar com lados de nós mesmos que, ou não conhecíamos ou ignorávamos propositalmente.
E quem pensa que só a fantasia faz isso, está enganado. Pois até mesmo os movimentos realistas e naturalistas, por mostrarem uma perspectiva biológica e geográfica da sociedade, também estavam, na verdade, mostrando lados novos do seres humanos. Lados esses que não eram pensados ainda de forma muito restrita no início do XIX. Nesse sentido, eles também desestabilizavam.
Essa consciência de literatura, absolutamente não é de toda nova e vem até mesmo ganhando força com o tempo, porém, seu andar é lento, instável e acidentado. Acredito sim que em breve o Brasil seja capaz de perder sua tradição documental, e também assim, conseguir ver que a literatura não está ali para lhe oferecer um relato fidedigno, mas sim que ela existe apenas para saciar sua própria necessidade de existir, de forçar as pessoas a pensarem de maneira diferente, de desnaturalizar aquilo que já foi naturalizado. Não porque ela seja rebelde e do contra, mas porque essa é a única forma de sempre estarmos renovando nossos pensamentos e nossa forma de olhar o mundo. 
Como final de efeito, podemos então nos valer de estudos antropológicos e da teoria da literária e entender a literatura sim como um espelho da sociedade. Entretanto, um espelho que sem dúvidas está quebrado, que não reflete  a sociedade em sua inteireza, mas sim partes dela. Partes distorcidas, espaçadas e que causa a quem se vê a estranheza de, muitas vezes, não se reconhecer ali.