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segunda-feira, 28 de junho de 2010

Criatividade e Utopia

O tema para esse ensaio me foi passado a mais ou menos uma semana pelo colega e escritor Vincent Law, que me apresentou um site que discute basicamente sobre o tema da criatividade: o ‘Criatividade e Inovação’. Li e gostei muito de sua proposta, e resolvi dissertar um pouco sobre o tema aqui.
Algo interessante que encontrei no site foram as conclusões de um estudo americano ao tema. Pois o que eles observaram com pesquisas feitas com pessoas das mais diferentes faixas etárias nos EUA é que, com o passar dos anos, ficamos menos criativos. Na infância, é o período máximo, mas conforme crescemos, essa nossa capacidade vai se reduzindo até que não sejamos quase mais capazes de criar coisas novas.
Mas acredito que esse dado não seja lá muito inovador, no sentido de que acredito ser do senso comum a idéia de que todas as crianças tenham a imaginação muito mais fértil que a dos adultos. E isso ocorre por alguns fatores que o mais importante, pelo menos para mim, é a questão do constrangimento.
Quando digo constrangimento, falo de determinadas amarras da sociedade que vetam a nossa capacidade ficcional. Quando crianças, a imaginação ou é estimulada, ou, quando não, é pelo menos aceita. Não temos problema em observar uma criança que vive no “Mundo da Lua”, pois para nós isso é absolutamente normal. Mas quando a coisa passa para um adulto, aí os adjetivos começam a surgir e vão desde um ‘irresponsável’, passando pelo ‘idiota’ até chegar ao ‘maluco’.
O mundo não é feito só de fantasia, isso é lógico. Até mesmo as pessoas que criam esse gênero têm que a todo o momento estar lidando com situações chatas do cotidiano, seja a burocratização das instituições, a rotina do dia a dia, ou os problemas vividos pela sociedade (fome, guerras, peste, e outros). Logo, nas palavras de Saramago, "Estamos afundados na merda do mundo e não se pode ser otimista. O otimista, ou é estúpido, ou insensível ou milionário".
Devo dizer que em muita parte isso é verdade, pois sonhar demais o torna despreparado para as durezas da vida. Porém, fico muito triste em me deparar com um mundo aonde não sejam mais possíveis utopias. Grandes sonhos de um futuro melhor, igualitário, mais justo. Sinceramente uma parte de mim ainda quer acreditar nessa possibilidade, por mais difícil que ela possa parecer. Posso estar sendo ignorante, como diz Saramago (já que insensível e milionário, eu sei que não sou), mas acho que essa capacidade de sonhar que possuímos vale muito e não deve ser perdida com tanta facilidade.
Nas palavras de Humberto Gessinger, “Tudo bem, até pode ser que os dragões sejam moinhos de vento. Tudo bem. Seja o que for. Se for por amor as causas perdidas” (“Dom Quixote”). Ou como diz a letra de “Utopia”, da banda Within Temptation “Por que chove lá em Utopia? Por que temos que matar a idéia de quem somos?”.
Afinal, quem de nós pode garantir com toda a certeza que da próxima idéia maluca não pode vir a chave para dias melhores? Quando se é criança, não temos problemas em pensar assim, mas infelizmente não podemos manter esses sonhos sem sofremos as conseqüências. Tornamos-nos imóveis, desinteressados e até certo ponto irresponsáveis com o nosso mundo, tudo porque simplesmente não vemos nele nenhuma chance de salvação. O que é uma pena.
Lutar contra moinhos de vento pode ser um desperdício de forças, mas acredito que vale mais do que ficar parado. A capacidade de sonhar, de fantasiar é mais do que uma fuga do mundo, ela pode ser também a concepção necessária de um mundo ideal.
Talvez a melhor coisa que possamos fazer quando concebemos a idéia de um Sangri-La, de um paraíso terreno, seria não apenas jogá-lo para um mundo metafísico, fora de nós, mas também tentar ver como esse mundo ideal pode se adaptar a nossa realidade. Pois se uma coisa é concebível em nossas mentes, isso é um sinal de que minimamente é possível na realidade. Ou alguém aqui acredita que nossa imaginação é capaz de criar algo totalmente por fora de nosso mundo? Em “A Arte Imita a Vida. Até que Ponto?’, eu discuto essa idéia, e tento mostrar como nossa imaginação não é apenas algo novo, totalmente fora do nosso mundo, mas sim uma readequação daquilo que na verdade já existe e (por que não?) é possível.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Obituário José Saramago.


Eu gostaria muito de ter escrito essa postagem antes, mas infelizmente faltou-me tempo para tanto. O que eu vou dizer aqui não é nenhuma novidade, mas minha intenção não é dar alguma notícia bombástica. Mas sim, prestar homenagem àquele que muito mereceu.
Sexta feira, dia 15 de junho, morreu José Saramago. Grande escritor, crítico e homem. Um autor que conseguiu elevar a estatuto da literatura de língua portuguesa ao patamar mais elevado, tornando-a reconhecida em termos de qualidade. Nós, seus herdeiros, com certeza vamos sofrer muito com sua falta, sejamos nós escritores de língua brasileira, angolana, ou qualquer outra descendente direta desta.
Nas palavras do cineasta Fernando Meireles, ‘o mundo ficou mais burro e cego’. E de fato ficou. Infelizmente, teremos de nos conformar com a ausência de sua crítica sagaz, de seu olhar apurado, de seu apreço pela nossa língua, e de sua coragem em falar de temas pouco explorados, ou muito incômodos.
Adeus mestre. Que nós, meros novos autores, possamos fazer por merecer o nome de escritores de língua portuguesa, que ganhou um novo significado graças ao seu trabalho.  

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Por personagens mais humanos

Esse tema foi abordado de forma parcial no artigo A ascensão do anti-herói, e por isso gostaria de dar mais algumas pinceladas nele, aproveitando para relacioná-lo com um dos meus primeiros ensaios aqui no blog, Verossimilhança, um desafio para a literatura fantástica.
E para isso, começo com a questão: qual o objetivo da arte? Muitas pessoas já deram muitas respostas. O parnasiano dizia que a arte servia apenas para ela própria: A Arte pela Arte. Nesse sentido, ela serviria apenas como um exercício estético e teria como objetivo a produção do belo. Algumas pessoas engajadas em movimentos políticos oi sociais gostam de dar o tom panfletário à suas obras, dizendo que a arte tem o objetivo de fazer a pessoa pensar os problemas da sociedade e assim ter capacidade de agir.
Eu basicamente não discordo nem concordo com nenhum desses pontos de vista. Pois para mim, a arte é mais que isso. A arte, tal como a literatura, a pintura, a escultura e a música, são manifestações que partem do emocional para atingir o racional. Através da beleza e da manutenção das sensações — medo, paixão, riso, choro — ela é capaz de transcender a ficção e atingir o espectador de forma a fazê-lo não só prestigiar a obra, mas fazer parte dela. E através dessa situação, em que o espectador se vê não só como um agente passivo, mas sim um atuante na obra, a arte é capaz de fazê-lo sentir os dramas, emoções e dilemas do personagem.
A arte transcende a razão e mexe com partes inconscientes do ser humano, e para conseguir isso — retomo a Aristóteles nessa parte — ela tem que ser capaz de fazer aquele que a prestigia se envolver com a obra. E para isso ele tem que se sentir parte daquilo. E para isso é preciso verossimilhança. Mesmo uma obra de ficção fantástica precisa criar verossimilhança. Precisa, na medida do possível, sem perder sua identidade como produtora de sonhos, gerar o mínimo de possibilidade para o leitor de que aquilo poderia ser real. E nesse trabalho, os personagens são fundamentais.
Então, volto à pergunta do artigo sobre o anti-herói: por que os vilões estão tão em alta nos dias atuais? E retomo a resposta: Por que eles são o que temos mais próximo da realidade, de n[os mesmos. Não quero aqui fornecer uma concepção Hobbesiana, no estilo o homem é o lobo do homem. Não é essa intenção. Mas sim para chamar a atenção para o fato de que todos nós possuímos qualidades, mas também defeitos.
Esse artigo não tem como objetivo ser uma bandeira de defesa dos defeitos humanos, mas sim de mostrar o fato de que eles são partes de nós, numa justa medida com nossas qualidades. Negá-los, seria negar a nós mesmos. Por isso que os vilões são mais queridos, por que eles, de alguma forma, nos mostram lados nossos sem que necessariamente sejamos reprimidos por eles.
Algo que me fez pensar sobre o toma novamente foi quando terminei de assistir a série americana Vampire Diaries e perceber como o vampiro mal, Damon, tornou-se muito mais querido do público do que o vampiro bom, Stefan. Por que Damon é mais querido? Por que ele é um assassino? Alguém que possui um total desprezo pela vida humana? Não creio que essa seja a resposta. Mas talvez por que ele seja capaz de andar de um extremo ao outro.
Seu irmão, Stefan, é um personagem atormentado, que vive dilemas, que sofre desejos, mas é um personagem que vive com eles e em nenhum momento — ou então, em muito poucos momentos — comete deslizes. É Íntegro, é correto, respeitador, cavaleiro, educado, boa parca, inteligente. E blá, blá, blá. Nada contra essas qualidades. Muito bom para aqueles que as possuem, mas não seria um pouco demais colocar todas elas em um único indivíduo? É claro que existem pessoas integras, educadas, inteligentes no mundo, mas seria possível alguém ser perfeito e possuir todas essas características simultaneamente?
Acho que Stefan não foi o melhor exemplo a ser usado, pois uma coisa que o seriado demonstra — e isso eu acho um ponto extremamente positivo — é que ele também cometeu erros e também é capaz de deslizes. Então, vamos para outro exemplo: Uma vez encontrei uma comunidade no Orkut com os seguintes dizeres: Todos os homens deveriam ser Edward Cullen. Que lançava uma campanha para que nós, machos insensíveis portadores de falo, fôssemos mais parecidos com o personagem de Crepúsculo. E bem... desculpa acabar com os sonhos de vocês meninas, mas isso é impossível. Isso por que, para que sejamos Edwards Cullens teríamos que, antes disso, sermos mulheres.
Correndo o risco de ser apedrejado em praça pública ou queimado vivo em uma fogueira, devo dizer que Edward é sim uma mulher. Ele pensa como uma mulher, fala como uma mulher e age como uma mulher. Grande parte dos desejos, problemas e frustrações do público feminino foram passadas para esse personagem. Fora o fato de ele ser bonito, rico, multi-talentoso, educado, íntegro, galante, inteligente e blá, blá, blá... Talvez por isso (Talvez? É claro que é por isso!) ele seja tão popular, afinal, ele é a mistura do homem dos sonhos mais a melhor amiga. Quem poderia competir com isso?
Mas o problema é que quando um personagem se torna perfeito demais, ele não é mais um humano e sim um modelo. Um modelo esse que em 99,9999% dos casos é inatingível. Por isso nós homens, muitas vezes, não nos sentimos a vontade em torcer por ele. Para nós, o Jacob é muito mais legal, pois ele tem defeitos, mas são defeitos perdoáveis. Já ouvi muitas pessoas dizendo que nós homens não gostamos de Crepúsculo porque não gostamos de histórias de amor, porque não somos românticos. E isso é uma mentira. Pois vou confessar: Eu chorei vendo GHOST, me emocionei com as músicas de Mouling Rouge, torci pelo amor de Abelardo e Heloisa e... Vou parar por aqui antes que a coisa fique mais vergonhosa.
Mas o que quero dizer é que nós sim podemos gostar de arte romântica, mas só quando nos sentimos aptos a nos identificarmos com a personagem, a torcermos por ele como se estivéssemos torcendo por nós mesmos. E isso só é possível quando nos identificamos com essa personagem, quando vemos nele algo possível, algo real. Minha crítica principal contra os personagens perfeitos é essa. É claro que é legal pensarmos nos homens e nas mulheres dos sonhos. Isso é legal mesmo. Mas querer impor esses modelos para a realidade, aí não da certo.
Por isso um personagem como Damon é mais interessante, pois ele não é só defeitos, ele não é só maldade. Ele é capaz de fazer coisas legais, é capaz de ser bom. E ainda por isso, é irônico, é descolado, é um tanto canalha, qualidades essas que basicamente só um vilão pode ter. Ele é mal e também é bom e é isso que é ser humano.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

RPG


Para todos aqueles que me conhecem e/ou leram meu trabalho, sabem o quanto esse tipo de jogo influenciou na minha vida e produção literária. Para mim, esse não é só um jogo, mas também uma experiência de vida, que nos ensina não só a fantasiar e fugir da realidade, mas também a treinar a imaginação, a experimentar situações fictícias talvez nunca possíveis no mundo empírico e preparar a senso criativo.
Acredito sinceramente que sem esse Hobby, eu jamais teria sequer começado a escrever, pois muito do mundo de “O Véu” foi tecido graças a influência do World of Darkness de ‘Vampiro, a Máscara’ e ‘Mago, a Ascensão’, e também boa parte da ação e magia proposta é devida a grande criação que é o estilo 3D&T de Marcelo Cassaro. Esse serão mestres que sempre merecerão meu agradecimento.
Esse jogo entrou na minha vida por volta dos doze anos de idade e desde então não saiu. Mesmo agora, não o jogando, ainda lembro muito das horas empregadas e dos momentos cômicos e dramáticos que se fizeram. E mesmo sendo considerado um jogo de NERD (O que na verdade é mesmo. ^^), o fato é ele não deve ser menosprezado por isso.
O RPG me ensinou muito sobre a capacidade de criar mundos, mas, principalmente, devo a ele o gosto que me despertou para a literatura. Quanto mais eu jogava, mais e mais os livros de regras e de mundos de RPG me despertavam a atenção. E depois, quando passei a ser o narrador das histórias, logo esse gosto restrito se expandiu para todo e qualquer livro, aonde, a literatura fantástica obviamente ganhou uma atenção especial.
Conseqüentemente, do gosto pela literatura, veio a paixão pelos estudos, o interesse pela história e, enfim, o ingresso na universidade. Engraçado como as vezes um pequeno gosto pode reger suas escolhas na vida e levá-lo a adquirir um potencial nunca antes imaginado. Lembro que antes de jogar RPG, eu era um aluno  mediano, sempre tirando o suficiente para passar de ano, porém, depois, passei a ser um dos primeiros da turma. Boas lembranças.
Há quem diga que esse jogo é ruim, que influência as pessoas a cometerem atos escabrosos, como casos de assassinatos em massa ou sacrifícios em nome de rituais mágicos. Mas francamente, qualquer pessoa perturbada o suficiente para fazer algo do tipo, não precisa de RPG para influenciar nada.    
Resumindo, minha proposta aqui nesse curto artigo foi o de dividir com vocês uma das minhas grandes paixões e também o de levantar a bandeira em nome dos “RPGistas” de plantão. Continuem jogando! É muito melhor que ver televisão ou jogar vídeo game, pois este, ao contrário dos outros dois, não mata os neurônios.  Rsrs.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Fantasia: a chave do sucesso.

Este artigo me foi inspirado através de uma visita que fiz à exposição que está acontecendo aqui no Rio de Janeiro, no Museu Histórico Nacional, intitulada ‘Einstein’. Como já nos aponta o título, esta é uma exposição toda voltada à memória do grande nome da ciência do século XX. E além de muito interessante, com direito a belas imagens, informações e tecnologia que visa tonar interativa a aprendizagem, o que mais me chamou a atenção — pelo menos de forma que sirva ao propósito deste blog — é a questão das descobertas da física e o quanto de fantasia existe nelas.
Como já abordei em outros ensaios aqui postados, acho importante salientar que diferente do que se pensa comumente, a criação científica tem sim muito de fantasia e de mito — Senso comum: a fantasia nas pequenas coisas — e que até mesmo os próprios termos fantasia, mito ou lenda, não devem ser encarados como sinônimos de mentira — Mito, Fantasia e Mentira. Eles são mais do que isso. Os mitos, assim como as lendas e a capacidade de fantasiar são, em muitos casos, a única forma que uma pessoa ou um grupo de humanos tem de explicar o mundo. Eles são o primeiro olhar a uma realidade ainda desconhecida, ainda obscura, e que, para torná-la inteligível, é necessária a adesão de uma pincelada mágica, sobrenatural, de forma a dar sentido a quem a tenta compreendê-la.
Mas vocês devem estar se perguntando do porque eu retomei a esse assunto. Retomei simplesmente porque vi nessa exposição teorias, idéias e problemas ligados à área da física que muito me fizeram refletir sobre essa relação com a fantasia. Por exemplo, a teoria do buraco negro. Durante toda a exposição, a guia nos explicou sobre a problemática do buraco negro: O que é e o que é formado. Explicações essas que me fizeram chegar à seguinte conclusão: Não é possível compreender esse fenômeno sem um pouco de abstração.
Vamos usar o exemplo do buraco negro para tentar explicar. De acordo com o que aprendi nessa visita (e se houver algum físico presente, por favor, me corria rs), buracos negros são formados a partir da morte de uma estrela. Imaginemos no caso, que a dimensão em que vivemos é uma superfície plana como um colchão, aonde todos os corpos ali colocados exercem pressão sobre ela. Notemos que cada corpo exerce uma determinada pressão. Pensemos, por exemplo, em uma bola de futebol de 1 kg deixada em cima desse colchão. E depois, coloquemos uma bilha de ferro do mesmo peso. Qual afundara mais? A resposta: a bilha, pois ela tem sua pressão concentrada em um ponto menor. Vocês também podem comprovar isso tentando enfiar a parte de trás de um lápis no braço e depois buscando virar e enfiar a ponta de grafite e ver qual que perfura e pele (Por favor, não façam isso.)
Mas então, aonde eu quero chegar. Ao simples fato de que, quanto mais concentrado o ponto aonde se exerce pressão, maior ela será. Então continuemos. Imaginemos uma estrela do tamanho de nosso belo planeta azul. Ela exerce pressão sobre a dimensão aonde está, porém, quando morre, tende a encolher. Passa a ser comprimida até ganhar o tamanho de uma bola de gude. Agora imagine toda a pressão digna de um planeta, concentrada em um diâmetro de 1 cm. É essa pressão que cria os buracos negros. Uma força capaz de tanta pressão que perfura a simples superfície da dimensão onde se encontra, tragando tudo o que há em volta.

Conseguiram entender? Legal, que eu nem tanto. Rsrsrsr.
Mas a idéia foi essa. Pois ela nos mostra o interessante uso da abstração para se compreender algo complexo assim. E isso ocorre simplesmente por que não temos a nossa disposição elementos que nos permitam compreender em sua totalidade a complexidade de um buraco negro, então temos que recorrer a exemplos banais ou alegorias para tentar dar conta.
Agora imaginem, por exemplo, outro tema complexo que é o Mal. Será que algum de nós dá conta de explicar o que é o mal, como é constituído e por que existe? A partir do momento que temos ciência disso, acredito que a criação de mitos como a Caixa de Pandora da mitologia grega ou o Pecado Original da teologia judaico-cristão não pareçam tão absurdas assim. Elas são teorias, como as da física, que muitas vezes têm que partir do zero para explicar alguma coisa.
E foi por isso que eu retornei ao tema. Retorno para mostrar como a criação de imagens, até certo ponto, fantásticas, ainda ajudam a explicar coisas das quais a simples razão não da conta. E por isso que eu retomo aos velhos mitos. Pois acho interessante pensar neles como algo além de uma mentira e tentar observar o quanto de verdade não está contido ali. Até que ponto eles são feitos em cima de fatos, de coisas que estavam lá, e até que ponto eles foram moldados pela imaginação.
Eu particularmente gosto de encarar a mitologia como uma ciência primitiva. Os processos para mim são semelhantes, pois ambas partem de imaginação: seja um teólogo na hora de tentar entender o sentido da vida e por isso teoriza sobre a existência de alguma divindade, seja para um Einstein que teve de fantasiar sobre sua teoria da relatividade antes de vir aqui ao Brasil e comprová-la ao analisar o eclipse solar na cidade de Sobral (CE).
Enfim, minha proposta aqui, como é a do blog é a de tentar discutir sobre fantasia e, é claro, levantar a bandeira contra todos aqueles que simplesmente a menosprezam. Defendo a literatura assim como todas as obras fantásticas, pois são elas os fatores que nos preparam para obter toda e qualquer forma de conhecimento novo. Precisamos ser loucos e irracionais se quisermos obter qualquer conhecimentos que ainda não fora formulado. E por isso valorizo a literatura fantástica, pois é ela que nos treina, desde o começo de nossas vidas, na maravilhosa arte da abstração e amadurece a nossa capacidade mais elevada e que nos diferencia dos animais: a imaginação.