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domingo, 21 de novembro de 2010

Como escrever literatura infantil para uma geração precoce?


Muito se fala em proteger os filhos, garantir sua inocência e assegurar a saúde familiar. Há todo um alerta para se prevenir que conteúdos inapropriados cheguem aos ouvidos da geração imatura, porém, na mesma proporção que essas barreiras são produzidas, notamos um fenômeno de desenvolvimento precoce nas crianças. Cada vez mais cedo elas têm contato com conteúdos não recomendados. A televisão, a internet, e outros meios de comunicação as bombardeiam todos os dias com imagens de violência, sexo, vocabulário pesado e outras manifestações que deveriam apenas estar restritas ao universo adulto. E por mais que os pais se desdobrem a fim de preservar sua integridade, o que notamos é que essa é uma batalha perdida.
A precocidade infantil é algo visível no mundo de hoje. Não só elas têm acesso a um vocabulário e a saberes pouco condizentes, como o próprio desenvolvimento corporal começa a atingir níveis acelerados. Elas de fato estão crescendo mais rápido. Mas até que ponto isso acontece? A proposta deste ensaio é levantar problemas da produção literária infantil da atualidade, tentando dialogar com essa nova geração de crianças precoces, que estão mais próximas do mundo adulto do que seus pais, na mesma idade, porém, que ainda não devem ser consideradas como totalmente maduras.
Podemos dizer que a literatura infantil tradicional tem perdido grande parte de seu público, pois as histórias da carochinha e os contos de fadas, hoje, agradam muito menos essas crianças que se lançam cada vez mais cedo em temas como paixão adolescente, conflitos de identidade e outras questões mais próprias da literatura juvenil. Hoje, muito menos se lê a Branca de Neve, ou a Chapeuzinho Vermelho, e mais e mais se procura os romances juvenis que estão em voga nas livrarias. Essas crianças estão sedentas de informação adulta, querem ser vistas como mais velhas do que realmente são. E em grande parte, elas estão mais velhas, mas não totalmente.
A literatura infantil de hoje tenta se adaptar a essa mudança. Tenta elaborar um novo gênero que de conscientizar conta a criança de temas que agora fazem parte de sua nova realidade. E essa é uma tarefa difícil. Pois ao mesmo tempo em que tenta se reinventar, ela vê barreiras serem erguidas contra ela. A censura pesada e a manifestação de grupos conservadores que buscam a proteção da família se apresentam como fortes barreiras a esse tipo de atitude. Querem censura, querem que determinadas informações fiquem longe de seus filhos. Mas infelizmente é um pouco tarde, pois elas já chegaram até eles.
Os próprios “baixinhos” não querem saber de histórias para crianças, pois se consideram maduros demais para elas. E esse é um fenômeno absolutamente normal, pois quem de nós já não se sentiu mais maduro do que realmente é? Eu mesmo lembro que já passei por essa fase, mas ela é uma ilusão. Apesar de desde cedo estarmos cientes de determinadas coisas, isso não nos torna adultos. Saber sobre sexo não quer dizer que você entende o que ele é, o que significa, nem que esteja preparado para ele. Saber falar palavrões não indica que se está realmente ciente do que essas palavras significam, ou que impacto elas têm sobre as outras pessoas. Enfim, o que temos hoje é uma geração que sabe muito, mas que não entende nada. Como agir nesse caso?
Ignorar não é o caminho. Tentar se prender a uma concepção tradicional, acreditando que esses temas jamais chegarão aos ouvidos de seus filhos não é o o melhor meio. É, no mínimo, uma utopia. E quando nos fechamos para isso, quando ignoramos esse fenômeno, o que temos é justamente uma geração sedenta de conhecimento e cega de curiosidade, que não tendo as respostas nos meios seguros, tentam consegui-las através das experiências próprias, que muitas vezes podem levá-las a caminhos perigosos. Acredito não precisar citar aqui os exemplos, não é mesmo?
Logo, já que temos que nos preocupar com a conscientização dessa nova geração, não poderia a literatura ter um papel nesse processo? Não seria melhor, aproveitar o espaço da escrita – que vem crescendo no Brasil - para se tentar, orientar essa nova geração quanto aos perigos aos quais estão submetidas, ao invés de se abstraírem dessa questão, apresentando uma realidade que não bate com o universo infantil de hoje?
Posso estar sendo duro no que vou dizer agora, mas essa é a forma como vejo as coisas. O que acontece no nosso país – e no mundo em geral - é uma ignorância hipócrita. Muitos valores ultrapassados ainda tentam se firmar e as pessoas se prendem na esperança de uma família totalmente estruturada e tradicional como nos moldes do séc. XV XVI e XVII. Mas essa família não é mais possível. Muitas coisas acontecem para que ela não mais exista. E isso não é o fim do mundo, pois se mostra como uma possibilidade de rever seus valores e se adaptar a uma nova realidade.
Então, nesse sentido eu entro na questão da censura. Seria mesmo uma boa idéia apagar determinados temas dos livros que os nossos filhos lêem? Seria a melhor saída ignorá-los como se estes não existissem. Ou não seria melhor emergi-los. Trazerem-nos a tona, mas de uma forma que possa não só apresentar uma realidade, mas também torná-la compreensível para o menor.
A curiosidade é um dom humano. É talvez aquilo que nos permitiu descobrir muitas coisas ao longo dos séculos. Mas essa curiosidade também pode levar à caminhos perigosos. Por isso, tomar o caminho inverso e ao invés de isolar, conscientizar para preservar. Não seria melhor revelar uma verdade que já está pré configurada na mente de seu filho, ao invés de se calar e torcer para que algumas coisas nunca cheguem ao ouvido deles? Informação é a melhor solução. Saciar essa curiosidade e evitar que um menor chegue às respostas pelos próprios caminhos, ter um diálogo mais aberto, e permitir que nossa literatura ajude nesse processo. Pois os escritores infantis querem ajudar, mas é necessário que seja permitido a eles trabalhar nesse sentido.

3 comentários:

  1. Olá Willian! Como vai?
    Adorei o tema do post, principalmente pq poucos abordam esse assunto.
    Como vs disse, aquela família tradicional não existe mais. O mundo mudou, os valores hoje são diferentes e a tecnologia dos meios de comunicação (que hj em dia é tão acessível)bombardeiam-nos com todo tipo de informação. No meio de tanto conhecimento, estão as crianças, que por natureza, são curiosas. Censurar determinado programa não vai adiantar em nada - é hipocrisia! Concordo com vs, devemos explicar essas coisas ditas "inapropriadas" para os pequenos, de forma delicada e que eles possam compreender, sem ter que recorrer para a experiência própria.
    Como sempre, seu blog aponta assuntos que rendem um belo debate... Parabéns!
    E saiba que te admiro muito como o escritor maravilhoso que vs é.
    Tem um selinho pra vs lá no blog, ok?
    Beijinhos :*

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  2. Ola Marie. ^^ Muito obrigado mesmo. Oba. Vou dar uma olhada agora mesmo. Beijão!

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  3. Prezado W.

    Sou escritora, precisamente poeta e agora vou ser avó pela primeira vez! e comecei a escrever um livro o qual dedicarei ao meu neto (a)... e saí a procurar orientação sobre o que escrever "Ao que vai nascer" como adoro a natureza e ele (a), foi concebido em Alto Paraíso, Chapada dos Veadeiros... arrodeado de cachoeiras, água, tucanos, árvores etc... quero expressar o amor a natureza, a vida... e me deparei com seu belo texto... se puder me ajudar, orientar... ficarei grata! pinholopes.anasuely@gmail.com parabéns por suas ideias!

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