Escrever, de certa forma, significa saber dominar bem a língua que instrumenta. Saber corretamente o significado das palavras e também dominar as regras de ortografia e gramática, semântica e sintaxe. Contudo, escrever bem é também saber se comunicar, o que exige do escritor mais do que simplesmente saber dos códigos linguísticos, mas também, conhecer e definir seu público-alvo.
Durante algum tempo, escrever bem pareceu se tornar sinônimo de “escrever difícil”. Escolas literárias brasileiras como a parnasiana, a simbolista e até mesmo algumas mais contemporâneas atribuem ao valor da obra a uma linguagem rebuscada e com um vocabulário rico. Entretanto, tal apego ao “escrever difícil” leva muitos escritores a cometer erros terríveis do ponto de vista da coerência do texto para com seu público.
A escrita mais erudita pode parecer atraente para um olhar acadêmico, para críticos literários ou para pessoas que estudem bem a língua, contudo, para outros, pode ser apenas um instrumento que torna a história mais cansativa, confusa e entediante. Saber que público é esse que deseja atingir, se torna então, essencial para se definir a melhor forma de escrever.
Não existe uma forma única e correta de se construir uma oração. Tanto a mais simples quanto a mais rebuscada têm seu valor na medida em que buscam criar coerência e sentido a mensagem passada. Um grande estudioso pode sentir-se mais a vontade lendo uma obra de Machado de Assis ou de José Saramago, pois gosta da forma como esses autores escrevem e presam pela língua portuguesa. Entretanto, para leitores iniciantes, que ainda estão tomando o gosto pelas letras, ou para pessoas que vejam na literatura apenas uma forma de relaxar, provavelmente torcerão o nariz para essas obras.
Todos nós buscamos determinados livros para atingir determinados objetivos. Se eu quero apenas “apoiar as pernas em cima da mesa e ler para relaxar” logicamente que irei procurar por leituras mais simples, com linguagem mais acessível e enredo melhor degustável. Contudo, quando procuro por uma obra que me ajude a crescer como escritor, tenho sim que recorrer aos clássicos ou aqueles trabalhos onde há um maior investimento ortográfico.
Não existe uma leitura certa e outra errada. Todas elas nos ajudam de alguma forma a crescer. Até mesmo as ruins, pois nos ensinam o que não devemos fazer. Impor uma única forma de escrever seria o mesmo que uniformizar a literatura, e para a arte em si, não existe maior pecado que aquele de querer que tudo seja igual.
Cada artista tem que conhecer os potenciais e limites seus e do seu público. Isso porque, se você ainda não têm o cabedal cultural necessário para escrever com requinte, meu conselho sincero que não tente. Pois n]ão existe coisa mais bizarra do que alguém que tenta falar bonito e acaba não dizendo coisa com coisa. Da mesma maneira, você deve entender as potencialidades do lugar de fala em que você está.
Se está escrevendo para acadêmicos, especialista em alguma área científica, logo, o uso dos códigos pertinentes aquela área são fundamentais. No caso de advogados, o código linguístico dos juristas, se para historiadores, os conceitos e categorias das ciências humanas e sociais. Mas se for para o jovem interessado em leitura, ou para aqueles que procuram um livro como forma de se desligar do mundo por algum tempo e sentir o prazer da leitura, então a estes deve ser destinado um vocabulário mais aberto, mais comum, mais cotidiano.
(Sem falar, é claro, que se você está escrevendo um romance onde pretende abordar a vida de pessoas humildes, acredito que seja do mínimo de bom senso que você não empregue palavras de alto escalão na fala de um pobre camponês.)
Concluindo minha análise e aproveitando para citar um exemplo pertinente, falo um pouco do livro de Carlos Costa – “Quando dormem as feiticeiras”, publicado em 2009 pela novo século. Pois este é, para mim um bom exemplo de uso adequado do vocabulário. Com palavras bem selecionadas, o livro de Carlos Costa consegue demonstrar grande conhecimento da língua portuguesa sem ser excessivamente rebuscado. Afinal, falamos de uma história que gira em torno da Europa medieval, e uma linguagem moderna seria no mínimo estranha ao contexto. Mas também falamos de um livro de fantasia, voltado possivelmente para um novo leitor. Logo, o excesso de esmero seria um pecado mortal para o potencial de propagação da obra.
Resumindo, antes de saber que linguagem é a mais adaptada a você escritor, procure conhecer suas pretensões e seus limites, assim como as pretensões e limites de seu público-alvo, só assim encontrara a resposta.