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domingo, 15 de maio de 2011

Leitura e Reflexão – “Jeremias, o bom”, de Ziraldo.

É muito bom quando um livro cai em nossas mãos assim, por acaso, e acaba se tornando um belo presente. Isso aconteceu comigo esta semana, quinta à noite, enquanto aguardava o metrô na estação Carioca. Lá, tem uma maquina responsável por vender clássicos de bolso a dois reais, e olhando sem muito interesse, acabei achando a coletânea de charges de “Jeremias, o bom”, de autoria do grande cartunista Ziraldo, e foi com ele que levei minha viagem de volta para a casa.


Ao terminar de analisar as charges, não pude deixar de pensar um pouco sobre essa questão da bondade. Pois notei no trabalho de Ziraldo uma forte crítica ao povo brasileiro como um todo. Um povo que é visto como bom, amistoso, receptivo e bem humorado, mas que tais qualidades muitas vezes acabam se transformando em comodismo, inércia e apatia. Ziraldo é um personagem sem dúvidas bom, prestativo e amável, contudo, nem sempre sua bondade é retribuída da mesma maneira. Muitos se aproveitam dele, pisam nele, ganham às suas custas e ele nada faz, não se queixa, sequer consegue tirar o sorriso do rosto.

A fronteira que divide a bondade da ingenuidade pode ser muitas vezes tênue, principalmente quando ser bom significa abrir mão de nossa identidade, de nosso espaço, de nosso direito de sermos originais. Nesse sentido, tendo a concordar mais com Maquiavel, em “O príncipe”, do que com Jeremias, pois apesar de este grande autor francês ser menosprezado, acusado de imoralidade e de malignidade, o que Maquiavel mostra muito bem e defende com maestria é que todo o ser humano é dotado de boas e más virtudes. Temos o bem e o mal dentro de nós e saber jogar com essas forças é essencial para podermos viver no mundo.

É a justa medida que parece vital no momento em que nos colocamos a viver em sociedade. Não precisamos ser altruístas a todo o momento para sermos bons. Às vezes, ser egoísta é aquilo que vai garantir não só sua comodidade, mas também sua segurança de saber que seus limites não estão sendo violados. Jeremias, a meu ver, parece não saber impor este limite. Ele não se importa de perder seu tempo, seu dinheiro, sua saúde e seu bem estar para ajudar os próximos, atendendo seus pedidos quando muitas vezes esses pedidos são tão absurdos que já demonstram que eles não têm o menor respeito com relação a Jeremias.

Por isso, ser humilde, ser gentil e educado, saber ser generoso podem ser excelentes virtudes, mas que não podem encontrar espaço para florescer se a pessoa em questão estiver no meio de pessoas egocêntricas, grossas e mal educadas. Temos de saber explorar todos os nossos lados, na medida certa, de modo a sabermos lidar com as diferentes circunstâncias desse louco e caótico processo que se chama vida.

(P.S. Sei que este foi curtinho, mas é que o tempo estava apertado. ^^)

Um comentário:

  1. O maior problema não é ser humilde, é o que se pensa sobre a humildade. As igrejas nos pressionam para chegar a esse estado puro de espírito, mas como humildade só se aprende na prática muitas pessoas não entendem o conceito. Não li as charges para dizer que esse é o caso, mas o que eu vejo é que se associa a humildade, à falta de auto-confiança. Do mesmo modo como se atribui o orgulho ao exceço de confiança, quando na verdade este ultimo é uma parede com tijolos de segunda categoria erguida para disfarçar a falta de decisão sobre o algo. A humildade seria a confiança de que mesmo que se esteja errado, nada se perde em seguir em frente, e seria a confiança de que fizemos aquilo pensando no bem, logo não agride confessar que erramos. Espero que aproveite o recorte.

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