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terça-feira, 19 de julho de 2011

História: uma mistura de fantasia e ciência

Alguns de vocês devem saber que além de escrever novelas, contos e romances de fantasia contemporânea, também estou me graduando em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Apesar de aparentarem serem coisas distintas – uma ciência, e uma arte; uma que busca a verdade, e outra que se baseia na imaginação; uma presa a um método, e outra livre para alcanças os mais distantes mundos – essas duas instâncias que regem atualmente a minha vida tem muito mais em comum do que podem fazer supor. Isso porque, a História também, além de ciência, pode ser entendida como uma manifestação artística.
Depois de quase dois anos escrevendo, esta é a primeira vez que me dedico a falar um pouco desta minha outra maneira de escrever. Daquela que me liga aos meus estudos acadêmicos. Acredito, na verdade, que nunca falei sobre minha formação em História de forma direta aqui no blog porque não achei necessário. Pois grande parte das minhas reflexões acerca dos temas propostos aqui no Por detrás do Véu, são, antes de mais nada, pensamentos que esta velha senhora me ajudou a proporcionar. Nunca falei de história, pois quando falava de literatura, de forma implícita, também estava falando dela. Isso porque, como já enunciei anteriormente, História também pé literatura, na medida em que história também é arte.
Apesar de todo o rigor científico, da busca por documentação, do senso crítico e da tentativa de objetividade, a verdade é que a verdade que os historiadores tanto buscam nunca é alcançada em sua plenitude. Sempre está faltando algo quando o assunto e tentar entender o que realmente aconteceu no ontem. Tudo o que temos do passado são resquícios, sinais, indícios de como as coisas eram, e nunca espelhos de como os homens de antes realmente agiam, pensavam, sentiam. E é nesse déficit que a imaginação entra na vida do historiador. A única forma de nós hoje, através de pequenos resquícios, sejam eles um documento, uma cerâmica, ou mesmo alguma construção que sobreviveu ao tempo, conseguirmos algum tipo de compreensão sobre os nossos ancestrais e nos valendo de uma boa dose de imaginação.
Uma imaginação criativa, tal como é a da literatura. Uma maneira de transformar pequenos pedaços em uma compreensão completa do que aconteceu. Tentar, na medida do possível, entender como era a vida para os homens de uma determinada época, que viviam sobre certos valores e dividiam o espaço com realidades que são completamente diferentes das nossas em pleno século XXI.
Na mitologia grega, as musas eram as responsáveis por servirem de inspiração aos poetas trágicos. Clio era a musa da história, logo, ela também criava sua arte através das narrativas do passado.
A fantasia cria, e a história também. Cria uma forma de dar sentido ao mundo, atribuir nexo as coisas do passado, procurando construir o sentido que levou o mundo a o que ele é hoje. Nesse sentido, a História, assim como a literatura, mimetiza a realidade do passado, como maneira de conseguir expor para nós hoje como as coisas eram. Contudo, assim como nenhum literatura pode ser completamente realista, sendo capaz de copiar perfeitamente o mundo, a história também não.
Mesmo com todo o rigor e toda a cientificidade da qual ela se quer valer, ainda assim estamos longe de construir um espelho do mundo. Pois mesmo um espelho, com sua capacidade de refletir toda uma imagem posta diante de si, ainda assim a representa de forma invertida, oposta e que logo não é fidedigna em sua inteireza.
A fantasia me ensinou muito acerca de como se escrever história. Pois não escrevo a fim de propor verdades absolutas quanto aos homens de ontem, mas sim tentar construir, tal como faço em meus romances, uma forma diferenciada de olhar o mundo, de representá-lo. Não copiando a realidade, e naturalizando conceitos e preconceitos dos quais o nosso mundo já está repleto, mas sim desconstruindo essa verdade da qual nós temos toda a certeza, e assim, propondo uma nova forma, uma nova possibilidade de olhar para a nossa condição.
Esher foi talvez aquele que conseguiu mesclar de forma mais feliz a arte e a ciência, trazendo noções de óptica, perspectiva e luz para seus desenhos


Sei que ficou confuso, mas eu não tinha outra forma de expressar com maior precisão essa imprecisão que é lidar com arte e ciência ao mesmo tempo.

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