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sábado, 8 de dezembro de 2012

Resenha: Drácula, de Bram Stoker


O mundo vampiresco se encontra em estado crítico, tanto que, com a saturação dos novos paradigmas impostos aos chupadores de sangue, está difícil não só escrever novos trabalhos a respeito do tema, como também ler um clássico como “Drácula” sem estar embutido destes valores distorcidos. Neste sentido, a obra de Bram Stroker pode acabar por descontentar um grande público por, (1) não trazer uma figura andrógina e galante, e (2) por usar de mitologias um tanto quanto “ultrapassadas” a respeito destes seres.

Contudo, despindo-se dos nossos valores pós modernos, podemos enxergar em “Drácula” um trabalho cuja qualidade literária é impar. Em primeiro lugar, por nos trazer um estilo de escrita ousado e interessante. Toda a narrativa nos é apresentada em forma documental. Não existe um narrador onipresente e onisciente, seja em primeira ou terceira pessoa. A história nos é contada através de cartas, diários, notícias de jornais, transformando o livro em um apanhado textual que, organizado cronologicamente, traz aquele gostinho de possibilidade, e veracidade, aos fãs de fantasia. E isso é possível porque estes documentos, além de constitutivos da narrativa, são também fontes utilizadas pelos próprios personagens que as manuseiam e comentam.

Um segundo ponto digno de nota é a própria construção do mistério. É claro que para nós, leitores do século XXI que, por mais que nunca tenhamos lido “Drácula” conhecemos bem sua história, o mistério por detrás dos estranhos acontecimentos que giram em torno dos personagens são facilmente previsíveis. Entretanto, isso não tira o mérito genial da construção do enredo, que passa do diário de Jonathan Harker para as cartas entre Mina Murray para Lucy Westenra, de forma a deixar o leitor com aquela pulga atrás da orelha, ansioso por querer saber o desfecho da parte anterior da história.

Neste sentido, a leitura de Drácula é altamente recomendada. Não por ser um clássico em si, mas pela sua própria qualidade estética. Por ser um trabalho que se constitui em uma pesquisa sobre o mito dos vampiros, e não apenas frutos da imaginação fértil e descomprometida de autores que resolvem escrever sobre o tema sem antes querer, minimamente, saber sobre o que falam.
 

Resenha: O Ciclo – Volume 1: Despertar, de Wanessa Maciel


É sempre interessante ver trabalhos que busquem explorar universos tão pouco convencionais a fim de nos entreter com boas histórias fantásticas. Fugindo dos elementos comuns, tais como mitologia grega, vampiros ou bruxos, “O Ciclo”, da jovem Wanessa Maciel, nos traz uma saga de fantasia contemporânea onde elementos da mitologia nórdica são incorporados à narrativa de forma bastante didática, o que possibilita aos leigos no assunto, como eu, a se inserirem nesta temática.

Voltado para os jovens leitores, o livro respeita bem seu público, não perdendo tempo com descrições exageradas ou diálogos mornos e pouco construtivos. A jovem Roberta, ao se descobrir como herdeira de uma deusa nórdica, vê seu mundo virar de pernas para o ar e sua rotina, que se situava entre a faculdade de letras e a casa com a família aparentemente perfeita, muda radicalmente, sendo inserida em uma trama de traições, segredos e troles que investem pesadamente em arrancar sua vida.

E o leitor não precisa esperar para que esses acontecimentos drásticos logo invadam a vida de Freia, deusa da qual Roberta é regente, tornando as páginas de “O Ciclo” ágeis e de fácil transição. É provável que, assim como eu, outros sintam que o final ocorreu de forma um tanto quanto brusca, sem necessariamente resolver dilemas fulcrais para o saudável encerramento do primeiro volume. Todavia, como este é o primeiro de outros, este não é um pecado mortal, mas que deve ser resolvido nos próximos volumes. Fica então, para Wanessa, a motivação e, também, o desafio.

domingo, 2 de dezembro de 2012

“Diário de um escritor” ou “Os dois lados da rotina na literatura”.


É claro para todos que quanto mais fazemos alguma coisa, mais apto nos tornamos a realizá-la. Mais nosso corpo e nossa mente se acostumam a tarefa e menos nos sentimos cansados ou estressados por conta disso. Sem dúvidas a prática leva a perfeição, todavia quando falamos do hábito de escrita, deve haver um cuidado para que esta “perfeição” não acabe por se tornar simplesmente rotina, e, assim, comprometer a qualidade da obra em questão.

Vocês já repararam como alguns autores best seller, em especial aqueles que possuem dezenas de obras publicadas, começam a se tornar repetitivos em seus trabalhos ao longo do tempo? Como se chega a um ponto em que você, leitor, acostumado com o seu estilo, acaba por prever acontecimentos, falas ou locais antes mesmo de chegar às páginas equivalentes? Pois é, eu também percebo, de vez em quando, isso. E pior, comecei a sentir isso quando eu mesmo escrevia.

O Véu, meu primeiro livro, foi um verdadeiro parto. Necessitou de inúmeras revisões, pois eu nunca sabia como dar continuidade a uma parágrafo, ou que palavras seriam melhor empregadas para descrever alguma cena. Com isso, eu basicamente escrevia e reescrevia várias vezes a mesma passagem até chegar a um ponto em que considerasse o resultado minimamente satisfatório. No fim, saiu. Mas não sem sacrifícios.


De Corpo e Alma e segundo volume de O Véu - respectivamente meu segundo e terceiro trabalhos – foram sendo produzidos de forma mais natural. Aos poucos, eu ia me acostumando com a prática, já sabia os recursos estilísticos, as figuras de linguagem que melhor se encaixavam, e também já tinha maior experiência em construir cenas de amor, comédia, drama ou suspense.

O problema mesmo despontou quando escrevi O Salto. Meu último trabalho finalizado e registrado. Esses quatro livros acima citados foram escritos em um período de tempo muito curto, pois corresponderam ao meu início na faculdade onde, além de ter mais tempo livre, foi o período em que despertei para esta prática, onde tive pela primeira vez o gosto pela escrita e que, por conta disso, acabei por desenterrar todas as ideias que tinha guardadas desde os tempos em que jogava RPG na adolescência e as lancei em documentos de word.

E foi então que senti algo estranho ao concluir O Salto. Eu não sabia o que era, mas havia algo de estranho, algo que me incomodava e não sabia o que era. Eu simplesmente não sentia mais a animação em passar pelas páginas para revisar, tal qual sentia ao reler meus trabalhos anteriores. Foi então que a ficha caiu: eu havia rotinizado minha escrita. Algumas passagens eram basicamente iguais a outras que eu havia escrito antes, momentos de tensão, alegria e reflexão estavam semelhantes aos de O Véu ou De Corpo e Alma e eu estava me tornando repetitivo em minhas figuras de linguagem.

Enfim, foi o momento em que percebi que deveria parar e descansar um pouco. As ideias continuaram vindo, mas seguir aquele ritmo acabaria por me tornar aquilo que sempre detestei: um escritor fordista.

Chamo de fordistas aqueles escritores que, trabalhando em série, produzem várias obras cujas temáticas e os personagens podem ser diferentes, mas as estruturas se mantém as mesmas. Roteiros prontos, onde os momentos passam a ser completamente previsíveis. E a menos que você seja um leitor muito pouco exigente, chega a um ponto em que aqueles trabalhos não mais te agradam, pois não conseguem mais atender a uma expectativa básica de quem procura um bom livro: um gostinho de algo novo.

E neste sentido, chega-se a uma faceta prejudicial da experiência. Pois se por um lado ela lhe torna mais maduro naquilo que você faz, esta também pode ser responsável por lhe tornar inerte em seu ofício. Incapaz de fazer algo de diferente. Uma coisa que, quando falamos de arte, é essencial.

Hoje, estou com um novo projeto, Despertar, que demorei para iniciar simplesmente pelo fato de sentir medo de fazer apenas mais do mesmo. Conversei até mesmo com meu editor, contando de minhas dificuldades, e agora, quase dois anos depois de escrever meu último livro, me sinto apto a continuar. O Salto está, até o momento, engavetado. É um trabalho do qual gostei bastante, mas que tenho que retornar a ele para ver se consigo tornar aquela boa ideia em algo novo, original. Algo que me acenda a chama da euforia ao terminar. Tal como aconteceu nos dois volumes de O Véu, como se despontou em De Corpo e Alma, e como está sendo agora em Despertar...

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Resenha: A árvore generosa, de Shel Silverstein.



Escrever literatura infantil é um verdadeiro desafio. Se por um lado é necessário suavizar a escrita para adaptá-la a um publico inicial, por outro também não se deve subestimar a capacidade cognitiva das crianças e apresentar um trabalho medíocre. Já vi muitos livros infantis que, por menosprezarem a criança, acabam por criar uma historinha tosca, recheada de desenhos sem muito cuidado estético, mas intensamente coloridos apenas para chamar a atenção, livros que qualquer macaco treinado poderia fazer melhor. O que é algo intensamente triste, pois menospreza um público que deve ser bem preparado e convidado ao hábito de ler.
Mas fico feliz em apresentar um livro que foge a esta regra. Shel Silverstein foi realmente feliz em sua “Árvore generosa”, um trabalho bonito, que mescla história simples e reflexão apurada, com uma moral intrínseca que é capaz de fazer pensar e, por pensar, até mesmo chorar.
O livro narra a história de amor do menino e sua árvore. Sobre amor, pode-se entendê-lo de duas formas distintas. Um que quer ter, o outro que quer oferecer, um interesseiro, outro desprendido, um egoísta e outro altruísta. O livro, além de uma lição de educação ambiental, é também um aprendizado acerca das relações humanas, da utilidade que damos ao outro, seja humano, seja outra coisa.
Uns querendo tanto e outros tão pouco para serem felizes. Relações que são construídas e destruídas pelo tempo, pelas mudanças. E principalmente a capacidade de se dar valor as coisas, mesmo quando aparentemente já perderam todos os seus potenciais. Estas são apenas algumas das lições encontradas por aqueles que se aventurarem por estas páginas.
Uma leitura ágil, cativante, que com certeza agradará muitos grupos etários. Bom para se ler sozinho, mas melhor acompanhado, importante de se ler para si, mas ainda mais importante ler para os outros. Sem dúvidas um livro que deve ser compartilhado de forma generosa.

Resenha: Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago



Saramago sai da vida e entra para a história e este livro, prêmio nobel de literatura, faz jus à condecoração e à memória do autor, tornando Saramago, além de grande escritor, um alvo difícil para se esboçar uma boa crítica. Pois ao falar deste autor é realmente complicado não cair no elogio exacerbado devido a eminência de sua obra, como também é quase impossível eu, reles escritor iniciante, fazer algum comentário que não seja elogioso sem levantar as réplicas do tipo: “e quem é você para criticar Saramago?”
Bem, a verdade é que nesta resenha não pretendo esboçar grandes críticas ou apontar defeitos, pois de fato gostei da obra. Na verdade, nem sei porque afinal fiz tamanha digressão, mas achei importante fazê-la. Usufruo deste direito, tal como Saramago ao escrever seus trabalhos, pois as vezes breves digressões falam mais do que o próprio assunto principal. Enfim, sem mais delongas, vamos à obra.
“Ensaio sobre a cegueira” é um romance com potenciais fantásticos, onde uma enfermidade misteriosa, caracterizada como “mal branco” e com potenciais de se tornar uma doença de caráter global, deixa cega boa parte da população portuguesa. Preocupadas, as autoridades decidem por confinar em quarentena os grupos humanos doentes e com risco de contágio, de forma a conter uma possível pandemia. E neste universo paralelo, sem contato com o mundo exterior que não seja na forma de suprimentos anônimos e guardas armados que vigiam as saídas, os confinados vivem uma sub existência onde a cegueira física em nada se compara a cegueira da alma.
Com personagens anônimos, cognominados apenas pela sua função social ou característica física marcante – a mulher do médico, o garoto estrábico, o primeiro cego – a narrativa se desenvolve. Nele, estes personagens desprovidos de identidade, apresenta-se este mar humano que é a nossa sociedade de hoje, onde o indivíduo perde sua caracterização pessoal e é englobado pela massa.
A mulher do médico, única personagem a manter a visão em meio ao caos, nos mostra, nas palavras do próprio autor, “a importância de se ter olhos quando os outros já os perderam”. A capacidade de ver, e não só olhar, de reparar, e não apenas ver. Níveis de visão que são esquecidos por nós, que olhamos sem ver, que vemos sem enxergar.
Sem dúvidas é uma obra com plenos potenciais e que obviamente todos eles não são atingidos. Nesse sentido, o fato de o título trazer o nome de um “ensaio” não é gratuito, pois Saramago não está preocupado em realizar uma narrativa fechada, que faça pleno sentido em sua totalidade e deixe amarrado todo e qualquer nó solto que possa aparecer. Pelo contrário, ele se permite perder completamente em meio a sua história. Coisas não são explicadas, personagens não são plenamente trabalhados. Existem lacunas que nós, leitores ávidos, podemos preencher a nosso bel prazer, realizando ensaios dentro do ensaio.
Enfim, uma obra magistral. Absolutamente densa, como todo o trabalho deste português, mas proveitosa e que deixa marcas do começo ao fim, e para além dele. Dos livros de Saramago, este foi o que tive mais dificuldade de ler. Demorou-se em demasia passar pelo mar turbulento de seus personagens e sua escrita marcadamente erudita e singular. Mas este foi absolutamente um trabalho que deu gosto de realizar e ao fim da história, aquele gosto de que havia conquistado um dos topos do mundo literário.


domingo, 18 de novembro de 2012

Escola Municipal Goethe

Quinta feira, dia 06 do presente mês. Recebi um convite que me deixou ao mesmo tempo surpreso e comovido. Tal reação se deveu em primeiro lugar porque, apesar de estar me lançando na vida literária há mais de dois anos, confesso que ainda me considero um amador no universo das letras. E por conta disso, a solicitação da professora Denise, guardiã da Sala de Leitura Cecília Meireles, da Escola Municipal Goethe, em me apresentar para seus alunos como escritor fantástico me pegou desprevenido.
Em segundo lugar, pois, mesmo atuando na escola há alguns meses, onde exerço a função de professor, e por conta disso já possuo uma relação até certo ponto próxima com os alunos, nenhum destes até então conhecia meu lado ficcional, ou minha paixão pelos livros que só se salientava no cuidado que tenho para com o acervo da sala de leitura. E neste momento, choveram-se as surpresas. Deles, por terem um escritor tão próximo, e minha por de repente ser alvo de tanto interesse.
Mentes jovens, em fase de maturação, que ainda são capazes de enxergar na fantasia algo que vai além da mera ficção. Que são abertos para se envolverem ao ouvir alguém lhes contando uma história, que não têm vergonha de esboçar uma reação de surpresa, medo ou graça ao se deparar com um momento da história em que tais sensações são ativadas. Com certeza, mentes que ainda estão abertas à capacidade de viajar...
As “entrevistas”, se realizaram com as duas turmas do quinto ano (manhã e tarde) e como manda a idade, a curiosidade fez brotar perguntas que – perdão pela tautologia – eram extremamente curiosas. Passando pelo meu trabalho à minha vida pessoal, a interação com os alunos foi divertida, amena e revigorante. E suas marcas são sentidas até o presente momento, em que finalmente sento para escrever sobre.
A experiência foi, sem dúvidas, maravilhosa. O carinho, a expectativa e a curiosidade emanada pelos alunos me fez reviver uma paixão pelo meu próprio trabalho. E esses momentos são sublimes. Quando podemos renovar a emoção por aquilo que fazemos, como se na verdade fosse a primeira vez em que nos colocamos a prova. As questões levantadas e as interpretações lançadas por mentes tão jovens e, por serem tão jovens, enxergam coisas que a racionalidade da vida adulta não nos permite.
Com certeza saí dessas visitas com um novo olhar sobre “O Véu”, enxergando-o como um livro novo e que por conta disso deve ser revisitado. E por conta de tando carinho, só tenho a agradecer. Agradecer a professora Denise pelo convite, à equipe da escola Goethe pela refúgio, aos alunos pela calorosa recepção, mas acima de tudo, agradeço a essa energia provocada pelo mundo da fantasia que, mesmo que de forma diferente, é capaz de mexer com os ânimos e as aspirações das pessoas.

sábado, 27 de outubro de 2012

Resenha: A ascensão da casa dos mortos, de Lemos Milani


Uma mansão antiga, imponente, luxuosa, situada em uma região afastada do Rio de Janeiro. Uma família e seus amigos que resolvem passar férias nela. Um mal secreto que habita as paredes do lugar e é despertado pela presença de uma personagem específica. Tais atributos poderiam significar que “A ascensão da casa dos mortos” de Lemos Milani não passaria de uma versão tropical de “O iluminado” de King. Contudo, fico feliz em dizer que, apesar das semelhanças, a obra brasileira consegue acertar em pontos que nosso ilustre americano deixou a desejar.

(Antes de começar a falar da obra em si eu preciso sinceramente fazer um comentário com relação à qualidade da edição. Digo isso, pois fiquei verdadeiramente impressionado com o trabalho que a editora Estronho dedica a suas obras. A impressão, a diagramação, a revisão e a capa são exemplares, e muitas editoras brasileiras deveriam aprender com ela.).

Enfim, retornando desta breve digressão, devo dizer que “A ascensão da casa dos mortos” é um livro bastante interessante, com uma história dinâmica e atraente.  Com personagens bem brasileiros, com características diversificadas e pessoais. As cenas de terror são muito bem escritas e – fazendo ponte com a obra de King – não se perdem em cenas fantasmagóricas sem sentido. O livro é bem dosado, entre momentos de frisson insano e outros de reflexão e enredamento. E também há uma forte dedicação do autor em nos apresentar este mundo maléfico que permeia a casa, mostrando-nos as causas e origens de tanto mal, mesmo que de forma um tanto quanto corrida, mais ao final da obra.

Como ponto a chamar a atenção, saliento que o livro peque com relação a seus personagens. Há, na verdade, um excesso deles, pois a história, muito centrada em Julieta, Santiago e Lindsay, acaba por excluir muitos outros de uma maior participação. E alguns deles parecem estar ali apenas para converter oxigênio em gás carbônico. Todavia, nada que desmereça o trabalho.

Neste sentido, recomendo a leitura de “A ascensão da casa dos mortos”, que demonstra muito bem o talento de Lemos Milani. Sua genialidade, todavia, é mais impactante em seus textos curtos, como os poemas e contos inseridos dentro do romance. E por conta disso, acredito que esses sejam os gêneros de texto mais fortes do autor.
 

Resenha: O Iluminado, de Stephen King.



Jack Torrance, escritor de talento, mas arruinado devido a seus problemas com álcool tenta realavancar sua vida e tem em um emprego de inverno a chance de trabalhar e ter tempo de preparar seu novo romance. Ele e sua família então vão se hospedar no hotel Overlook, onde a presença de seu filho Danny, garoto precoce que demonstra fabulosas habilidades psíquicas, mexe com as estruturas e as forças ocultas adormecidas no local. Neste momento, o pomposo hotel transformasse em uma armadilha mortal, onde um mal enterrado a séculos ameaça a vida de seus novos hóspodes...

É possível que os fãs da literatura de terror e, em especial, os aficionados na obra de King possam vir a gostar deste livro, todavia, confesso que fiquei um tanto quanto decepcionado com o seu desenrolar. Iniciei este trabalho com muita empolgação. As primeiras páginas demonstram talento, tanto na escrita, quanto na construção do enredo, porém esta qualidade vai se diluindo ao longo das quinhentas páginas que compõe o romance.

King explora muito bem a tensão inicial, prometendo ao leitor uma grande dose de mistério e é este justamente o compromisso que não se cumpre. O hotel Overlook guarda um segredo, um mal centenário que destrói aqueles que nele se hospedam nas temporadas de inverno, tal como a família Torrance, Neste momento, em que não há testemunhas, não há movimentação. Crimes bárbaros ceifaram a vida naquele lugar e a aura tenebrosa do terror está presente em cada um dos aposentos, em especial no quarto 237.

Toda esta tensão criada na entrada faz com que o aventureiro das páginas de “O iluminado” crie imensas expectativas com relação ao desenrolar da obra. Mas infelizmente estas não são atendidas. O mistério da origem do mal é muito pouco trabalhado, e a história se perde em cenas de terror sem muito sentido e de pouca profundidade. E o medo que parecia desabrochar no início do enredo se perde e o livro acaba por se tornar enfadonho a partir da metade.

Talvez um romance mais enxuto fosse o melhor para “O iluminado”, onde se investisse mais atenção ao enredo que às cenas fantásticas que acabam por se tornarem vazias ao fim. Uma verdadeira pena, pois o talento de Stephen King, com certeza, extrapola as limitadas fronteiras deste livro.
 

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Domínios do corpo: rir e chorar


Uma vez ouvi uma consideração que me deixou sinceramente pensativo. Foi em um curso sobre teoria da história na minha faculdade, ministrado pela professora Norma Cortes, em que em meio a uma discussão, ela disse: “fazer pessoas inteligentes chorar é muito fácil. O difícil é fazê-las rir”. Fiquei muito tempo pensando nisso e realmente gostei tanto do impacto que a frase me causou que tentei entender o porquê disso. Pois, apesar de concordar, não consegui estipular uma razão para isso acontecer.  
Normalmente temos o estereótipo do intelectual como alguém apático, e às vezes até carrancudo ou depressivo, sem nunca ao menos nos questionarmos o porquê dessa imagem. Num momento, cheguei até a pensar na coisa da alienação. Que as pessoas mais ligadas a um pensamento crítico estão atentas aos problemas do mundo e por isso acabam se tornando mais tristes, mas isso não deu conta. Primeiro, porque ser erudito e ser pessimista não são coisas que precisam necessariamente caminhar juntas. E em segundo, pois as pessoas menos engajadas política ou socialmente não necessariamente ignoram os problemas, mas simplesmente aprenderam a conviver com elas de uma forma que não necessariamente podemos explicar.
Então, pensando mais sobre o assunto, comecei a me questionar quanto aos livros de drama e comédia, em especial “Marley e eu” de John Grogan e “Opúsculo”, da Harvard Lampoon, para simbolizar um trabalho de cada vertente. De fato, a sátira de Crepúsculo, assim como muitos filmes de comédia, não me agrada. Sem querer ser arrogante ou pretencioso, mas sinceramente até me senti lisonjeado com a frase de minha professora, mesmo que aquela, naquele momento, não tivesse sido dirigida a mim. Mas deixemos isso para outra hora.
O exemplo dos livros é bom, pois são equivalentes: ambos possuem uma qualidade razoável, são voltados mais ou menos para o mesmo tipo de público. Contudo, o primeiro me fez debulhar em lágrimas no final e o segundo não me arrancou uma risada sequer do começo ao fim. E lembrando eles, realmente pude entender por que. Acho que todos aqueles que têm apego a seus animais de estimação vão entender. Afinal, você sabe que ele viverá menos que você, sabe que quando partir vai doer. Pois apesar de ele ser apenas um animal – o que numa hierarquia não é o mesmo que perder uma mãe, um pai ou um irmão – ainda assim você se prepara, pois o sofrimento causado é o mesmo. Enfim, apesar de todo e qualquer preparo, apesar de, quando você descobre que a hora está próxima de chegar, e com isso tentar se convencer de que é o melhor, que você poderá ter outro bichinho, enfim, depois de usar todos os argumentos racionais possíveis para não se afetar muito com a perda... Nada adianta, você chora como uma criança.
Acontece que realmente temos muito pouco controle de nossas emoções. Por mais racionais que sejamos, é difícil não nos sensibilizarmos. Ser um ser racional não significa controlar completamente a sensibilidade. E no nosso caso, nossa tentativa de ter o conhecimento de tudo através do pensamento lógico acabou nos deixando despreparados para apreender o mundo de outra maneira. Estamos acostumados demais a querer ter explicações plausíveis para tudo, treinar nossa capacidade cognitiva, de modo que nos esquecemos de treinar nosso lado afetivo. De preparar nosso corpo para as emoções da vida que não podem ser simplesmente racionadas. Afinal, não importa os esforços da filosofia e da teologia, ainda não chegamos a um consenso a respeito do sentido da vida e da morte. De modo que a perda de um bichinho de estimação é capaz de nos chocar de tal maneira.
Por outro lado, quando falamos do ato de rir através de uma piada, a coisa muda de foco. Eu confesso que às vezes reconheço a chatice de se questionar tudo. Não aceitar algo de bom grado e sempre se perguntar a respeito do sentido da coisa. E foi assim que aconteceu quando li “Opúsculo”. Não adiantava quantas idiotices os personagens faziam, eu sempre me questionava “mas é só isso?” “qual o sentido disso?”. Enfim, a verdade é que não havia sentido. Era simplesmente para você rir de um cara com uma camisa de mulher. Mas Aqueles acostumados a questionar tudo, não aceitam isso com facilidade, querem piadas que os convençam, que os obriguem a pensar. Por isso a tarefa de fazer rir se torna tão desgastante. Imagino que deva ser um saco contar uma piada para alguém assim. (risos)
Enfim, pessoas que prezam pela inteligência gostam de ser instigadas. Mas acredito também que isso não signifique que as pessoas que riem muito e choram pouco são simplesmente burras. Estas inclusive são muito capazes, todavia, possuem a capacidade de, em certos momentos da vida, de desligarem seu senso crítico para poder apreciar da forma mais simples possível a determinados momentos que não podem ser apreendidos pela razão. Se isso é ser melhor ou pior, não cabe a ninguém julgar. São formas de estar no mundo e de viver dia após dia fazendo o melhor possível para estar conectado à vida.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Resenha: O código da Vince, de Dan Brown


Esta foi uma das obras mais impactantes da literatura policial dos últimos tempos, trazendo para o autor juras de amor e ódio que, apimentadas pela mídia, serviram para projetar “O Código da Vince” a um patamar quase inalcançável em vendagem de livros. Os marqueteiros devem estar cem por cento satisfeitos.

Pois bem, deixando as polêmicas de lado, devemos admitir que o livro seja bom, visto que trata-se de um romance policial de ficção. E como tal, atende aos requisitos necessários: tem uma boa escrita, um ritmo eletrizante, deixa o leitor intrigado, e cada capítulo é um convite irresistível ao próximo. Um ponto forte para além do básico é a pesquisa realizada, somando ao trabalho conhecimentos de História, Antropologia, História da Arte e Simbologia de forma invejável.

A personagem principal, Robert Longdon, que nos parece auter ego de Brown, ao se tornar um dos principais suspeitos de assassinado de um importante curador do museu do Louvre, se coloca em uma caçada humana pela Europa atrás de pistas de uma antiga sociedade secreta e de um mistério milenar, que envolve os Templários, o Santo Graal e a figura do ilustre mestre Leonardo da Vince.

Um ponto que deve ser destacado e que empobrece um pouco a vasta obra de Dan Brown é o estilo fordista do autor. Chamo de fordista, pois, aqueles que já leram outros trabalhos do mesmo sabem que ele tem certa tendência a se repetir. Neste caso, Código da Vince trás consigo características que estão presentes também em “Ponto de Impacto”, “Anjos e demônios”, “Fortaleza Digital” e o último “O símbolo perdido”, tais como: um casal de protagonistas, onde a mulher, mesmo sendo a principal, ainda é deixada em segundo plano nos termos da aventura; um segredo mortal que a personagem feminina carrega sem saber; o casal principal se apaixona e termina na cama com a mulher em cima do homem tirando a roupa (sério, quando li isso de forma igualzinha em “Anjos e Demônios” e “Ponto de Impacto” tive de rir. Que falta de imaginação); o livro sempre começa com um assassinato; e o vilão (desculpem o spoiller) é sempre um traidor dos mocinhos que contrata assassinos profissionais.

Enfim, a escrita comercial e massificada é sem dúvidas o calcanhar de Aquiles de Bronw, mas que não desmerece as obras como boas histórias de ficção e agradáveis passatempos. Todavia, um conselho: se você busca este livro para saber a verdade sobre Jesus Cristo. Pelo amor de Deus, vai fazer algo de mais útil.

Resenha: Divã, de Martha Medeiros

Martha Medeiros é uma das vozes feministas mais importantes da literatura brasileira. Uma das primeiras autoras interessadas em explorar e divulgar o universo da mulher em suas obras. Todavia, o que poderia ser um verdadeiro “pé no saco” para qualquer leitor masculino, torna-se algo tragável e até mesmo compreensível, dado a habilidade da autora em combater o machismo sem necessariamente apontar e culpar toda a raça masculina pelos infortúnios da mulheres ao longo dos séculos. Algo que normalmente outras feministas fazem de sobra.
Narrado em primeira pessoa, o leitor toma o lugar de Lopes, psicanalista que tem de escutar durante as 170 páginas de Divã as loucuras e paranoias de Mercedes. Uma mulher de meia idade, divorciada, com filhos já criados e que recentemente começa a redescobrir os prazeres que julgava enterrados para sempre.
Entre amantes cada vez mais novos, amizades importantes e lições e aprendizados que obtém seja através de outros, seja por via de suas próprias reflexões, a personagem principal vai traçando um mapa de autoconhecimento que acredito tocar a fundo grande parte dos leitores desta obra. E mesmo aqueles eu não possam se identificar completamente com a personagem, seja pela sua idade, ou por seu sexo, ainda sim poderão se condizer dela se encararam o trabalho de mente aberta.
“Divã” é sem dúvidas um trabalho agradável, com uma escrita suave e bons momentos de humor e drama. Uma leitura ágil, mas que permite momentos de reflexão, com monólogos passados, mas que não se deixam cair completamente em clichês. Um livro que vale a pena ser lido, seja por homens ou mulheres, que queiram ou não explorar o universo feminino. Na verdade, um aviso é importante ser deixado para aqueles que procuram a obra de Medeiros atrás de respostas para problemas pessoais ou de suas cônjuges: desista. Pois nenhum autor, por melhor que seja, poderá dar tais soluções.

Resenha: Onze Minutos, de Paulo Coelho


Este é um dos meus trabalhos favoritos do “Mago”, que repudiado pela intelectualidade brasileira, merece certo destaque pelas riquezas que traz em suas obras. O livro nos conta a história de Maria, jovem do interior que em uma guinada na vida tem a chance de conhecer a Europa e viver uma vida de estrela de cinema. Esta, como todos devem saber, é uma armadilha comum, na qual muitas meninas inocentes caem, sendo levadas para longe de seus países e traficadas no exterior. No caso de Maria, não foi diferente. Enganada, vai servir de prostituta na Suíça. Todavia, ao contrário do fim trágico que normalmente se espera, esta viagem faz nossa protagonista vivenciar um novo mundo de autodescobertas e possibilidades.

O tom de autoajuda, comum em Paulo Coelho, está presente basicamente em toda a obra e alguns leitores podem até mesmo ficar cansados dos monólogos de plena sabedoria em que os personagens se colocam em vários momentos da história. O ar fantasioso de “Onze minutos” também pode incomodar muitos, na medida em que nossa personagem principal, uma jovem sozinha em um país estrangeiro, conhecendo uma língua obscura, sem instrução ou contatos que possam lhe ajudar, ainda assim consegue vencer na vida e estar nesse estranho mundo de forma natural. Tal surrealidade com certeza incomodará aqueles carentes de uma pouco de veracidade, mas agradará a maioria que não se importa com um pouco de fantasia em meio a suas histórias.

Em todo o caso, pontos valorosos devem ser destacados. O primeiro é o próprio poder de pesquisa do autor, que passeia por tradições místicas dos mais diversos pontos do mundo, recheando “Onze Minutos” daqueles extensos monólogos de sabedoria oriental e ocidental que, apesar de chatos para alguns, são imensamente interessantes para outros. Outro ponto importante na obra de Coelho é o próprio ensinamento de tolerância e respeito que cada um de seus livros traz. Em um mundo em que os movimentos fundamentalistas crescem e as raízes da intolerância parecem firmemente fincadas no solo, obras como esta são importantes, primeiro por trazerem mensagens valorosas e segundo por serem transmitidas por alguém que tem o domínio de uma boa oratória, capaz de convencer e comover os corações mais duros e as racionalidades mais intransigentes.

domingo, 2 de setembro de 2012

Resenha: Travessuras da menina má, de Mario Vargas Llosa

“Travessuras da menina má” teria tudo para ser uma história de amor clichê, com um enredo previsível e comovente, mas a habilidade de Llosa não decepciona seus fãs e faz deste livro uma ótima história que mescla realidade e ficção ao nos apresentar ao mundo das décadas finais do século XX. A relação que se estabelece entre Ricardo e Lily representa os dois polos máximos de uma complicada história de amor. Ele, acomodado e certinho, ela, inescrupulosa e ambiciosa; ele completamente apaixonado e dependente; ela, livre e desimpedida; ele, fazendo de tudo para estar perto dela e ela esperando apenas o abaixar de sua guarda para fugir sem deixar vestígios.
O romance de Lily e Ricardo, muito bem tecido, com reviravoltas e momentos de puro ódio e condolência por parte do leitor que, inconformado com a burrice do mocinho, ainda assim não consegue deixar de torcer por ele e, indignado com a falta de consideração de Lily ainda assim não consegue tirar dela toda a razão, apesar disso me parece mais um pretexto do que propriamente o núcleo central desta história.
Digo isso por que, enquanto temos um homem que persegue sua amada pelos quatro cantos do mundo, o que nos é apresentado é um mundo complexo e heterogêneo, lugares tão distintos e fascinantes que parece incrível pertencerem a um mesmo universo: “a Paris revolucionária dos anos 60, a Londres das drogas, da cultura hippie e do amor livre dos anos 70, a Madri dos anos 80”. Todos esses cenários fascinantes me fazem crer que o objetivo o livro, mais do que nos contar uma história, seja nos mostrar o mundo que deixamos para trás, o mundo que o autor viveu e conheceu e que, por mais que seja amplo, como nos demonstra o livro, ainda assim é incompleto, pois não é capaz de nos apresentar outras inúmeras regiões que sequer temos a capacidade de imaginar como sejam. Neste sentido, a curiosidade de Lily em aventurar-se neste mundo reflete um pouco daquela que parece fazer parte do próprio autor e, acredito, daqueles leitores a quem interessarem em se aventurar por esta obra.

domingo, 19 de agosto de 2012

Resenha: A sombra do vento, de Carlos Ruiz Zafón.

Já havia tido um vislumbre em “O jogo do anjo”, mas “A Sombra do vento” me garantiu a certeza: Carlos Ruiz Zafón escreve muito, muito bem.
O livro nos narra uma história original, intrigante. Daniel Sempere, filho de um tradicional livreiro de Barcelona, um dia acorda assustado. Descobriu que não consegue mais se lembrar do rosto de sua falecida mãe. Seu pai, para consolá-lo, resolve por lhe levar a um lugar mágico: o cemitério dos livros esquecidos. Responsável por preservar as obras daqueles autores esquecidos no tempo, o cemitério trás consigo toda a atmosfera do peso do passado, das vozes que não conseguiram se propagar no tempo, dos livros que talvez nunca fossem lidos. Lá, Daniel descobre “A Sombra do vento”, do desconhecido Julián Carax. Fascinado pela obra, o jovem tentar descobrir mais sobre o autor e seu trabalho, até que vem a seu o fato de que uma estranha figura vêm destruindo ao longo dos anos todos os livros de seu querido autor. E com esta descoberta, Daniel acaba por se lançar em um mundo de conflitos, amores e segredos ocultos por detrás da sombra do vento de uma Barcelona arrasada pela guerra civil.
A ditadura de Franco e a crise financeira espanhola servem de pano de fundo para esta fantástica obra, cheia de segredos que instigam o leitor a querer sempre mais. Com personagens humanos, dotados de vícios e virtudes que nos são descritos sem floreios exagerados, as aventuras de Daniel e Cia ganham vida a cada página. Com uma escrita dinâmica onde inúmeras narrativas nos são apresentadas, A sombra do vento se mostra um trabalho ambicioso e audacioso, que não decepciona o leitor em momento algum.

Resenha: Capitães da Areia, de Jorge Amado.


Jorge Amado é um dos autores mais produtivos da literatura brasileira. Sendo um dos poucos que realmente viveu da profissão de escritor – visto que muitos outros grandes autores sempre tiveram profissões paralelas que lhes garantiam o sustento para além das vendas de seus livros – sua produção quase em escala industrial serviu de tema para alguns críticos que apontavam em sua vasta obra a repetição demasiada de enredo e temas. Todavia, esta característica que eu julgo não ser completamente equivocada, não impede que algumas pérolas saiam de seu trabalho.
Capitães da Areia” é um livro que possui uma escrita suave e um enredo que apesar de simples, serve para nos instruir acerca de questões mais complexas, como a exclusão social e a violência urbana e rural nas terras nordestinas. Narrando a história de um grupo de jovens delinquentes autodenominados capitães da areia, que sobrevivem nas ruas de Salvador através de furtos, Amado nos traz a um mundo onde as condições de sobrevivência exigem daqueles jovens a capacidade de adquirirem um conhecimento precoce da existência humana. Lançados prematuramente no conhecimento do sexo e da carência de apoio familiar, esses meninos tentam a todo o custo se tornar homens mais cedo para ganhar um lugar à luz do poderoso sol tropical.
Entre a fé na melhoria de vida e as condições áridas da vida sob o sol, o livro nos apresenta a aspectos interessantes da cultura baiana, servindo assim de janela para uma face do nordeste que compõe um todo que, normalmente, ignoramos. Longe assim de estereótipos, sejam negativos ou positivos, “Capitães da Areia” nos leva a tentar ver uma Bahia que, sem ser toda seca nem toda carnaval, se mostra como real em sua simplicidade, em seus potenciais e seus problemas típicos de todo o centro urbano.
Sem dúvidas, o livro tem muitos ‘quês’ novelescos, característica esta do autor que serviu para que suas obras ganhassem inúmeras adaptações no cinema e na televisão. Em momentos do livro o leitor pode ter a sensação de que o enredo está se alongando demasiadamente, “enchendo linguiça”, por assim dizer, ao fazer narrações que pouco contribuem para o sentido da obra, mas que sem dúvidas acrescentam para tornar o romance mais atraente devido as reviravoltas sucessivas. Ao se chegar à conclusão, os finais apaziguados também nos remetem muito às produções televisivas, mas estas características, apesar de chatas se observadas sob o prisma do conjunto da obra, não são de todo o ruim se temos como ponto de vista a produção individual.
Neste sentido, recomendo a leitura de “Capitães da Areia”, por ser um livro que além de leve e agradável, constituindo-se assim em algo prazeroso, também tem seus momentos em que coloca o leitor diante de uma parte da realidade que tende, seja por simples ignorância, seja por medo, a ignorar.


sábado, 11 de agosto de 2012

Coisas que valem a pena divulgar: Projeto mais Leitura.

O projeto mais leitura é resultado da iniciativa da Imprensa Oficial mais o Governo do Estado e tem por objetivo tornar mais acessível a leitura, lançando livros no mercado a preços populares. Este projeto conta com três unidades até o presente momento: em São Gonçalo, Bangu (endereços no último banner anexo) e São João de Meriti. Esta última, por sinal, eu visitei.
Minha visita a unidade do Poupa Tempo do Shopping Grande Rio, em São João de Meriti, foi plenamente satisfatória. Além de encontrar ótimos títulos a preços entre dois e três reais, o atendimento é excelente, o espaço é pequeno, mas bem distribuído e os títulos estão muito bem organizados. Vale a pena conferir.
Dentre os livros que adquiri, estão:
    A Hora das Bruxas - Volume II, Anne Rice: 3 reais

    Memória e Festa, Fábio Lessa e Regina Bustamante: 3 reais

    O Dia da Coruja, Leonardo Sciascia: 2 reais

Mas uma observação é importante ser feita:
  • Há um limite de dois exemplares por cliente/dia. Neste sentido, se você mora perto de um dos locais, aproveite para ir com certa frequência, pois a cada semana chegam novos exemplares. E caso não, quando for, tente levar o máximo de pessoas consigo, assim dá para pegar mais livros. ^^

Aproveitem.
Só espero que em breve abra uma perto do meu bairro.