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terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Reality show – Ficção e fantasia

Câmeras vinte e quatro horas por dia, filmando cada coisa que a pessoa faz. Microfones estrategicamente espalhados, captando cada palavra, cada suspiro. Reality show, ou show da vida real, é o gênero de programa que está na moda, atraindo um público cada vez maior e motivando a criação de novos estilos de quadros cada vez mais inusitados que outros. Basicamente, todos gostam dessa coisa de ver a vida como ela “é”, enxergar através das máscaras da conveniência de cada dia e conhecer o ser humano em sua integridade. O Big Brother, talvez o programa mais ilustre nesta categoria, e cujo atual reinicio serviu para me fazer pensar o tema deste artigo, tem como proposta ser um esta janela para o mundo real, de mostrar as pessoas como elas são por captar até aqueles momentos mais inconscientes, mais íntimos, que fogem completamente da dissimulação de cada dia. Mas seria essa realidade algo tão concreto e fidedigno quanto querem nos vender?


Pergunto isso, pois penso em determinados elementos que caracterizam estes programas, e ao fazer isso não consigo deixar de relacionar com certos momentos do meu próprio processo de escrita ficcional. Vejamos... Para escrever O Véu, por exemplo, uma de minhas primeiras preocupações foi com relação aos personagens que habitariam meu mundo. Buscando nas pessoas que de alguma forma eu conhecia – sejam próximos, sejam conhecidos apenas na ficção ou nos meio de comunicação – selecionei aqueles cujas características mais se aproximavam do que eu queria para fazer parte de minha história. Relacionando, quando as pessoas se inscrevem para o Big Brother, por exemplo, elas, através das fitas que enviam, são da mesma forma selecionadas. São escolhidas em número limitado – tal como as personagens de um livro – através de um critério estabelecido pelo autor do programa, que busca neles pessoas capazes de engendrar uma boa trama.
Eh, esses foram os primeiros personagens que me vieram à cabeça. Fazer oque... sou um viciado. rs

Cada um desses personagens tem sua história, suas características e contradições próprias de qualquer ser humano, contudo, como não tenho a minha disposição 1.000.000 de páginas com as quais possa apresentar meus personagens em sua inteireza, escolho por estabelecer um recorde de suas características, de forma a apresentar ao leitor apenas um esboço de cada um. E de preferência, mostro apenas aquelas características que são compatíveis com a trama que eu quero estabelecer. Ao pensarmos um programa que passa todos os dias, com cerca de uma hora de duração, podemos pensar também desta forma. Pois cada um daqueles participantes, que está confinado durante 24 horas de seu dia, dispõe de apenas alguns minutos de apresentação para o telespectador, e nesse processo não é de se estranhar que muitas coisas que cada um deles tenha feito estejam perdidas. E o que garante que determinados atributos de alguns participantes sejam revelados e outros não é justamente uma seleção, feita por aquele que, como um autor de ficção, escreve a história que será contada para o público.

E como último elemento que gostaria de destacar para validar minha tese, estão os próprios discursos que são construídos por detrás das atitudes de todos os personagens/participantes. Pois um livro de ficção não é apenas construído pelas ações dos protagonistas, mas também por toda uma narrativa que completa o mundo, dando sentido as iniciativas de cada um deles. Muitas vezes, quando escrevo sobre um personagem, acabo destacando pontos de seu caráter, fazendo juízos de valores acerca dele que, às vezes podem ir de encontro às perspectivas que meus leitores tenham do mesmo. Por exemplo, o fato de no meio de minha narrativa eu atribuir um mau caráter a determinada personagem, não garante que todos os meus leitores concordarão que tal pessoa seja mau caráter. Alguns podem achá-la valorosa. Mas independente disso, o fato de eu ter expressado tal opinião não deixa de ser um discurso particular meu que tem como objetivo expressar um ponto de vista e, consciente ou inconscientemente, convencer meu leitor de que meus personagens são deste jeito e não de outro.

Quando pensamos nos “heróis” do BBB, também temos uma série de discursos acerca de cada um. Temos apresentadores, repórteres e comentadores que estão ali justamente para julgar determinadas atitudes, seja de forma direta ou indireta. São pessoas que, ao expressarem suas considerações a respeito de determinado participante, acabam por expressar uma opinião pessoal e que tende, intencionalmente ou não, a convencer o espectador que determinado jogador é assim e não assado. Mesmo que o público discorde de tal interpretação. E o mais interessante é que, diferente da literatura, os reality shows possuem recursos que vão além da fala e da escrita, mas que são igualmente capazes de gerar um discurso que obtenha uma interpretação de um personagem que vá além de suas ações. Por exemplo, um fundo musical, que lembre o filme “Tubarão” quando eu quiser dizer que determinado participante está tramando algo, ou outra melodia que lembre um grande épico quando quiser dizer que tal brother é o mocinho da história.

Enfim, os recursos são os mais variados e o que podemos perceber com eles é que o produto de um reality show é muito mais próximo da ficção do que o título nos deixa supor. Todo programa sofre uma edição, tal como um livro. Todo o reality show possui aqueles agentes que estão por detrás dos participantes e que influenciam na trama do jogo: e esses são roteiristas, diretores, apresentadores... Tal como um livro, que possui autores, revisores, diagramadores, profissionais de marketing, todos esses atuam sob as sombras dos personagens a fim de ajudar a história a se desenvolver. Em ambos os casos, tanto no romance de ficção quanto no reality show, o que temos é um enredamento, que visa apresentar um mundo caótico, cheio de variedades, em forma de narrativa, com início, meio e fim, e que enfim faça sentido para quem lê/assiste.

Em suma... Bem, quem diria que o Big Brother poderia me ajudar a pensar em algo interessante...





domingo, 1 de janeiro de 2012

Metas para uma nova escrita.

Com a virada do ano, nada mais na moda do que já ir planejando o que se fará de 2012. Quais as metas para esse novo ano, e como fará para concluir cada uma delas. Esse é o período aonde também, alguns escritores já vão prometendo para si mesmos que livros irão começar, terminar ou então modificar antes da chegada do apocalipse maia. Pois bem, tal plano estratégico é sem dúvidas satisfatório na medida em que organiza sua vida e, pelo menos, lhe impõe algumas atitudes que ajudam seu ofício a seguir em frente. Contudo, quando falamos do ato de escrever, tal qual qualquer manifestação artística onde o principal elemento seja algo tão subjetivo e incontrolável como a inspiração, o melhor é ir com calma.


Com isso, não quero dizer que a escrita, por ser uma atitude sensível, imaginativa e estética, não deva ser planejada e organizada, como qualquer outra coisa da vida. Sem dúvidas que um bom plano, com a construção de um bom roteiro e a organização de um calendário para melhor estabelecer o período de produção, ajudam bastante. Todavia, o motor inicial da escrita, que é uma boa idéia, não é algo que possamos planejar com toda a precisão.

Digo isso porque é muito comum ver pessoas que estão se iniciando no ato de escrever, e até mesmo outros que já estão neste caminho há mais tempo, sentirem-se frustrados por “prometerem a si mesmos que iriam escrever um romance, um conto, ou uma crônica” e verem que seu prazo passou e eles nada conseguiram. Tal atitude acaba por gerar uma angústia desnecessária e antecipada. Pois o processo de elaboração de uma idéia – a menos que você queria a produção de um livro puramente comercial, com roteiro já pronto no mercado – não pode ser completamente metodizado e racionalizado.

Este primeiro passo exige tempo para contemplação, apreciação, reflexão e imaginação de tudo. De outras obras de artes, de idéias e da própria vida como um todo. Este é o momento em que não se pode pedir metas e sim deixar a coisa fluir. Pois os objetivos, neste caso, só irão gerar no possível autor a ansiedade e a sensação de estar com uma grande obrigação nos ombros, a pressão própria de uma fábrica, tendo de trabalhar com planos de metas todos os meses, sempre exigindo de si mais tarefas do que se pode sustentar. Tal tendência transforma a escrita em um ato mecânico, industrial, uma produção em massa. Tudo o que uma boa literatura não pode ser.

Então, como dica para este ano que se inicia e também como meta para novos trabalhos, comecemos pensando em não criar metas para as áreas que não exijam isso como condição. Deixe-as para depois, como quando sua história estiver mais ou menos configurada, quando as grandes idéias já surgiram e o problema passa a ser pô-las em prática. Pois é nesse momento que o planejamento se torna necessário, na medida em que tudo se encaixa no plano das idéias e o desafio passa a ser fazê-las valer no mundo real. Então, use e abuse de calendários, de roteiros, e programas e faça fazer valer a sua escrita.

Afinal, ter um prazo e não conseguir cumprir é frustrante, mas também, ter uma boa idéia e não ser capaz de aplicá-la é ainda pior. E neste momento, uma boa preparação ajuda bastante que para que você possa organizar seu tempo e fazer o melhor possível com ele.

Desejo a todos um 2012 de muita saúde, paz e inspiração. Corram atrás de seus objetivos.