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domingo, 17 de junho de 2012

Resenha: México Rebelde, de John Reed



REED, John. México Rebelde, tradução: Mary Leite de Barros, Segunda edição, Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1978.



O livro de John Reed se propõe a relatar minuciosamente a realidade em torno da Revolução Mexicana, aproveitando-se assim da própria experiência do autor e sua narrativa jornalística que caracteriza o gênero de seu trabalho; Reed fora enviado para cobrir o movimento revolucionário no ano de 1913 pela revista Metropolitan Magazine. Do ponto de vista da escrita, por tentar trazer o máximo de precisão para a obra, a linguagem objetiva do autor ganha pontos, todavia, na perspectiva literária, perde-se em qualidade pela falta de fluidez e cuidado estético para com a mesma.

A narrativa de “México rebelde” preocupa-se em relatar as experiência do autor acerca dos acontecimentos envolvendo os revoltosos, sem buscar a imparcialidade pretendida por muitos jornalistas. A simpatia de John Reed pelo movimento e pelas pessoas que dele participaram é sentida claramente ao longo da história e seu viés esquerdista tão pouco é ocultado ao leitor. Contudo, algumas visões apresentadas no livro parecem fornecer uma crítica, mesmo que de forma despercebida ao próprio autor, sobre a dita revolução. Desta maneira, “México rebelde”, além de uma simples narração de fatos se mostra uma perspectiva interessante acerca da vivência insurreta mexicana, pois apesar de fruto de um olhar condizente com a causa, ainda assim é uma visão externa aos agentes históricos do processo. A respeito destas características do trabalho, vamos por partes.

Sobre o relato minucioso, podemos dizer que seus capítulos não poupam o leitor da brutalidade do movimento. Cenas de puro horror, com homens despedaçados e lutas acirradas banham as páginas de sangue, e a miséria do povo mexicano é evidente em toda a narrativa. Contudo, apesar das dificuldades, este é também um grupo feliz, solidário e que aproveita as noites de calma para festejar. As personagens da história, em sua grande maioria, são camponeses com pouca ou nenhuma instrução, famintos, membros de um grupo que vive a margem da sociedade mexicana. Todos possuem necessidades imediatas que precisam ser atendidas e enxergam na revolução a possibilidade de mudança para suas vidas. Um sentimento verdadeiro deve-se dizer, acerca do envolvimento destes homens com a luta revolucionária. Os insurgentes de Reed nos são apresentados como pessoas realmente honestas e dispostas a encarar uma luta por um ideal, que em seus horizontes se mostra como verdadeiro. Porém, quando falamos deste ideal, este parece carecer de precisão de acordo com a concepção do autor.

Pancho Villa é a figura central em “México Rebelde”. Sua liderança é o elemento de coesão dessa massa tão disforme e desorientada. Pancho, na narrativa, parece se mostrar como o único ideal realmente presente na mente da maioria dos envolvidos. Assim, o que se mostra importante a destacar é que “México rebelde” acaba por incitar ao leitor que o movimento mexicano demonstrava fraquezas no que diz respeito a uma ideologia comum. Os revoltosos seguem seu líder sem necessariamente questionar, escassos de um viés para além dele que oriente seus projetos de futuro. O único projeto realmente visado é a mudança, mas para onde não se sabe.

É neste ponto que o título da obra mostra-se menos inocente. Ao titular o trabalho como “México Rebelde” ou “México insurgente” e não “México revolucionário”, revela-se uma concepção acerca da agitação. Para os idealizadores do título, o levante mexicano não possui potenciais revolucionários, talvez por ser uma investida realizada por pessoas sem instrução e sem ideais revolucionários pautados em uma ideologia comum – como o iluminismo, comunismo ou anarquismo, para citar os que estavam em voga no período. A arruaça dos camponeses, carentes de ideologia, fartos de necessidades e esperançosos com o que o futuro lhes reserva.


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