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quinta-feira, 12 de julho de 2012

Resenha: As memórias do livro, de Geraldine Brooks


Geraldine Brooks consegue mesclar diversos estilos neste trabalho, tornando “As memórias do livro” um romance que dificilmente desagradará completamente um leitor. A estrutura do livro se divide basicamente em duas partes, que se intercalam ao longo da narrativa. A primeira, volta-se para conservadora Hanna, convocada pela ONU para ir a Sarajevo em 1996, a fim de restaurar e escrever um ensaio acerca de um antigo Hagadá encontrado na região, ela passa por novas descobertas que vão além daquelas que são encontradas no manuscrito judaico: um amor, um poderoso segredo de família e as marcas da guerra. Estes elementos básicos tornam a leitura agradável para aquelas pessoas à procura de um romance leve. Todavia, Brooks não para por aí.
Cada capítulo de Hanna, onde esta encontra no manuscrito marcas que servem de vestígios das andanças do Hagadá ao longo do tempo, é seguido por um que conta a história do próprio documento. Cada sinal torna-se assim um rastro, que diz respeito a um momento da “vida” do manuscrito e das pessoas que por ele passaram. Uma asa de inseto, um pelo branco, marcas de vinho e sangue, cada um destes conta uma história, dá pistas sobre sua trajetória, serve de monumento para aqueles que o tocaram. Como historiador, confesso que fiquei fascinado com estes momentos, onde o diálogo presente e passado se estabelece de forma tão suave. Hanna, no presente, tenta buscar explicações para estas marcas deixadas no livro que as vezes remete, as vezes não, a realidade pela qual ele passou. Este é sem dúvidas um trabalho de história.
Para fins de conclusão, o romance de Brooks tem uma temática chave que perpassa todos os momentos das estórias: a questão do antissemitismo e da intolerância étnico/religiosa. Seja falando da inquisição, ou narrando experiências das personagens dentro do holocausto nazista, as memórias do livro nos apresentam um mundo onde a vontade de sobreviver na vida e na memória contra os desejos de obliteração travam batalhas colossais. O Hagadá, neste sentido, mais do que um objeto com a função de transmitir um tipo de conhecimento religioso, é o arauto da memória, aquele responsável por contar uma parte das histórias de pessoas cuja a voz não se houve mais, um vestígio de tempos e de homens que passaram pela Terra e deixaram sua marca, seja na escrita, no desenho, ou simplesmente por suas ações mais cotidianas. 



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